Camarilha dos qautro

Jornal O Estado do Maranhão

São recorrentes os ataques do presidente Bolsonaro e três de seus filhos a dois fundamentos da democracia, o Poder Legislativo e o Judiciário. A mais recente agressão deu-se na semana passada, quando ele distribuiu vídeo a seguidores, chamando-os a participarem, no próximo 15 de março, de manifestação de apoio a ele, de repúdio ao Congresso Nacional bem como ao Supremo Tribunal Federal –STF, e de exigência de fechamento das duas instituições.

O apoio aos manifestantes, por parte do presidente da República, equivale a oferecer-lhes aval para aprofundarem a ousadia golpista. Porque se isso não for a pregação de um golpe de Estado, é o quê? Um apelo à paz e harmonia entre os poderes?

Quem tem acompanhado as declarações dos quatro contra a ordem democrática não pode deixar de concluir pela existência de um projeto antidemocrático, sob a aparência de insanidade mental. Polônio, personagem de Shakespeare, na peça “Hamlet”, diz sobre o comportamento do personagem Hamlet: “Ainda que isto seja loucura, mesmo assim há método nela”. A loucura, portanto, não está excluída dessa avaliação. É uma loucura metódica, pois tem um objetivo.

Você, leitor, se lembra da declaração de um bolsonarinho sobre o fechamento do STF com apenas um soldado e um cabo? E desta fala de Bolsonaro: “O erro da ditadura foi torturar e não matar”? E das homenagens do filho Flávio ao chefe do escritório do crime, o miliciano Adriano? E da proposta de Carlos Bolsonaro, de fazer “a transformação que o Brasil quer” por vias não democráticas? E da fala de seu irmão Eduardo, em defesa de um novo AI-5?

Não devemos fechar os olhos a essas ameaças. O que a alguns pode parecer só grosserias sem sentido são revelações do pensamento (?) da camarilha dos quatro (lembrem-se de Mao). A tática é recuar a cada declaração e alegar em seguida distorção, pela imprensa, da palavra deles, na expectativa de outras declarações da mesma natureza já não chocarem mais ninguém com seus disparates. Não terão o apoio da maioria dos brasileiros ao pretendido golpe.

De onde vem a sistemática tentativa de desmoralização do Congresso e do STF? De Bolsonaro. Em nome de uma tal de nova política, ele se recusa a articular com os legisladores os interesses de seu governo, a fim de aprovar projetos importantes para o país. Omite-se. Por conseguinte, deixa espaço ao Congresso de legislar sem ouvir o Executivo. Por que ouviria, se o presidente não quer ser ouvido? Ele prefere um golpe.

Seu desejo é de o Legislativo aprovar os projetos do Executivo de bico calado. Em democracia nenhuma as coisas funcionam assim. Seu espírito ditatorial está igualmente na essência de suas relações com a imprensa. Esta é boa, somente se não fizer perguntas incômodas sobre a rachadinha de seu filho. Ao falar de uma jornalista da “Folha de S. Paulo”, afirmou que ela desejava dar o furo, em mais uma de suas frequentes demonstrações de grosseria e misoginia (aversão a mulheres).

Não se poderá negar a Bolsonaro, contudo, espírito de inovação. Dou exemplos: a recomendação aos brasileiros de fazerem a número 2, tão só de dois em dois dias; ou a situação dele, de primeiro presidente brasileiro a ser fritado por um subordinado, Moro, em vez de torrá-lo; já não falo da falta de educação nem do seu português bambo.

Diversamente do visto no poema de Kaváfis, os bárbaros chegaram, sob a chefia de um ensandecido metódico. A hora não é de calar. Olho nele.

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