O PT não aprende
'Elite' está de saco cheio de ser tratada como fascista
4/10/2018
Folha de S. Paulo
Fernando Haddad culpou o “fascismo da elite” pelo aumento de
sua rejeição. O PT não aprende. Não entende que o
crescimento, e possível vitória, de um candidato raso de ideias e grosso no
autoritarismo não é porque a “elite”, da qual a classe média faz parte, é
fascista. É porque ela está de saco cheio de ser tratada como tal e apontada
como responsável por todos os males do país, enquanto o partido dele age como
se não tivesse nada com isso.
Há diferença entre o eleitor-raiz de Bolsonaro e aquele que
apenas votará nele num eventual segundo turno contra Haddad. No entanto, o que
eles têm em comum é que a maioria cansou não apenas da roubalheira do PT, mas
também de ser chamada de machista, racista, homofóbica. Está exausta de ouvir
que rico não tolera pobre em avião ou na universidade (há gente assim, mas uma
parte ínfima e risível da sociedade). Cada vez que alguém diz que todo homem é
um estuprador em potencial, que tem nojo da elite, que Lula será solto, Bolsonarofica mais perto da
Presidência.
Veja o que ocorreu no fim de semana. A manifestação orquestrada
por um grupo de mulheres foi histórica e elas serão uma oposição barulhenta,
caso o deputado se eleja. Mas a expectativa de mostrar força e resistência saiu
pela culatra, porque o #elenão sem Haddad no pacote desceu
arranhando a goela como apoio velado ao PT. Protestar contra misoginia não
comove ninguém se a corrupção é tratada como mal menor.
Petistas não aprendem, simpatizantes do partido também não. Artistas têm
sido cobrados pela bajulação ao PT, pela falta de autocrítica e por omissão.
Não dá para gritar contra um candidato que diz atrocidades e se calar em
relação a um partido que mergulhou o país numa crise política, econômica e
social desse tamanho. Pau que bate em Chico deveria bater em Francisco.
E o PT precisa mudar o lado desse disco velho do “nós contra eles”, da
elite X povo. Não cola mais.
Mariliz Pereira Jorge
Jornalista e
roteirista de TV
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