Ângela e os bororós


Luiz Alfredo Raposo
Economista

          Deu na e-midia, a chanceler Ângela Merkel teria dito a juízes e altos burocratas que pleiteavam salários de professor: “como posso igualar vocês a quem os ensinou?” Aqui, inverso o quadro, indagam como reagiria uma Merkel presidente. Alemãmente, creio. Começaria por anotar os problemas federais: 1) os supersalários (acima do teto legal) têm um bruto dum peso na folha de ativos. 2) É enorme, frente à do INSS, a aposentadoria média do setor público. “Cópia” dos salários da ativa, ela continua a desigualdade. 3) Inviável mais imposto, está-se no nível alemão e muito aquém da renda per capita alemã. 4) No atual ciclo demográfico, o movimento de aposentações é tal, que a folha dos inativos promete comer, não demora, toda a receita orçamentária.
           É, desastre na Previdência gera desastre no Tesouro e descarta soluções via só (1) ou (3). P. ex., aumentar os professores e trazer os salários da elite ao nível alemão... O jeito seria atacar pelo (2). Em seu país, ela já fez duas reformas da Previdência: em 2007 (aumentou a idade mínima para 67 anos) e 2014. Faria, então, uma à moda Temer: generalizar o padrão INSS, pondo fim às superaposentadorias (!); em reforço, aumentar a idade mínima. Com isso, pensaria, se iria tomar a rota de sanear as contas e reduzir as desigualdades. Donde: 1) uma economia mais hígida e empregadora desde já e; 2) aos poucos (gradual a reforma) mais igualdade dentro e fora da área pública.
          E a “presidente” esperaria os progressistas para capitães da tropa reformista... Para logo vê-los e a grão-burocratas, enervados, sem dar um pio sobre privilégios em perigo, a encantar o povo com pajelança: “déficit é truque aritmético inventado por um governo que ‘rouba’ da Previdência e quer descontar no povo, podando-lhe direitos de aposentadoria”. Um primor de besteirol! Ilusionismo, sim, é escamotear que o “roubado” com uma mão está sendo (e em valor crescente) sobredevolvido com a outra. E a idade mínima é apenas a perna esquerda da reforma. E um não problema: hoje, real é o desemprego, que corta todo direito, entre eles o de aposentar-se mais cedo ou mais tarde. Vital para o trabalhador é seu emprego já. O que supõe a economia no rumo, logo a reforma.
          E a nobre dama concluiria que nossos progressistas odeiam progresso. Estão felicíssimos com o que aí está. Luta? Só por privilégios de castas. Parecem, sim, eles e seus clientes, empenhados em instruir-nos numa Lógica do tipo mágico. Da que Lévy-Strauss achou entre os bororós de Mato Grosso. Não admira que, amiúde, na Terra Brasilis, o absurdo pareça lógico e a Lógica sem adjetivo, bobagem ou tapeação. Triste Brasil, gemeria Frau Merkel em Baixo Alemão.

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