E depois?
Luiz Alfredo Raposo
Três matérias do
jornalista Reinaldo Azevedo no site
de Veja do dia 17/4 tratam da chamada Lista de Fachin. Uma envolve o senador José
Serra, que muito admiro; outra a senadora Kátia Abreu e uma terceira, o
ex-prefeito Eduardo Paes, dos quais, confesso, nunca fui admirador. Sai delas
um aviso tremendo: ou o Brasil usa de juízo e discernimento na digestão do
episódio Lava Jato, ou corremos o risco de jogar fora o bebê, junto com a água
do banho. De ir deste para um inferno muito pior. Dizimada a classe política pelo
tsunami moralista, que não distingue Serras, Paes e Kátias dos Cabrais e seus white caps, quem vai ocupar o vazio? Pensemos
em 2018. Um Capitão infantilizado, que ama tanques e soldadinhos, e emoldura,
orgulhoso, retratos tenebrosos nas paredes? Um Coronel sertanejo de
chiqueirador na mão e língua suja, sintomas típicos de desprezo pela etiqueta
democrática? Uma Beata puxadora de benditos, que insinua conhecer misteriosas veredas
salvadoras? Um Levy Fidélis? Ou partimos logo para a utopia, convocamos Moro,
os procuradores e os monges de São Bento?
Não, política é
coisa que não larga. Inútil pensar em dispensá-la, desistir dela. E é um jogo
que requer jogadores talentosos e treinados. Para ganhar, só jogando bem.
E de quem já jogou e ganhou se pode dizer que sabe jogar. Meu estimado Serra,
jogou e ganhou: fez o genérico, o PSF, a campanha contra a aids. Foi para
muitos o melhor ministro da Saúde que já tivemos. E não deve ter sido mau
gestor em São Paulo, tanto que vem sendo reeleito em sucessivos pleitos
majoritários. Paes (o intratável, o nervosinho, queixam-se os delatores) revelou-se
um prefeito do Rio acima da média, dizem os cariocas. Da senadora, pouco a
dizer: foi, na pasta da Agricultura, uma ministra sem escândalo. E leal até o
fim à amiga Dilma.
Pois bem, os três
vêm de ser indiciados pelo STF: teriam recebido doações via caixa 2. Sem contrapartida, vejam bem! Receberam?
Acredito, mas quem não recebeu? E de quem se pode dizer: esse nunca receberá?
Ganhar o jogo político começa por ganhar a eleição (fora do poder, a danação– vivia
a repetir um terrível pensador que passou em nossas vidas). E eleição custa
caro, por mais que se tente baratear, coisa que o malsinado Congresso atual em
parte já fez, vejam só! Ora, se ela é financiável por doações, a figura do
doador se faz necessária. E sempre haverá doadores que não querem se mostrar. E
assim oferta e procura às vezes se encontram e se casam em cerimônia íntima (como
certos apaixonados de outrora iam se casar no Uruguai)... O que levou o
patriarca Odebrecht a prelecionar que, “da cintura para baixo”, os políticos são todos iguais. Nem tanto,
embora caiba reconhecer: no que toca a caixa 2, essa secular instituição, a
igualdade é a bem dizer matemática... Esse negócio lembra corrida de Fórmula 1,
onde ganha quem correr uma polegada a mais. A entidade promotora reforça continuamente
a segurança, mas os acidentes continuam. É que os corredores estão o tempo todo
“testando” os limites...
Há políticos que,
sim, se apropriam do caixa 2, ou dão
algo em troca. Quanto a esses, lasciate
ogne speranza, eles merecem jogar no time da penitenciária... Mas há os outros. Desses eu diria: candidatos
a uma vaga no nosso time do coração. Só que aí se põe a obrigação nova de olhá-los “da cintura para cima”. Para as
qualidades, que, diga lá o que disser o mestre Emílio, não são as mesmas para
todos. Quem pensa o quê? Quem fez ou quis fazer o quê? Quem se impõe ao
respeito geral pelo currículo? Sobretudo, quem apoia as reformas que estão na
agenda atual do país? São cirurgias de urgência que alguns, sobretudo os de corte
populista, por deformação ou oportunismo querem que a gente simples enxergue
como puras malvadezas. Como uma criança vê uma vacina que lhe vão aplicar
contra um vírus fatal.
Está aí, a
capacidade de evitar generalizações injustas, de separar alhos de bugalhos, de avaliar pelas qualidades
nos livrará da longa provação anunciada. É o recado.
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