Juros de mora
Jornal O Estado do Maranhão
Guido Mantega foi a pessoa que durante mais tempo exerceu o
cargo de ministro da Fazenda no Brasil: oito anos, de 2006, no governo Lula,
até 2014, quase ao final do desastre econômico petista engendrado pela
ex-presidente Dilma Roussef e seu partido. Ele foi considerado pela revista
“Época”, na época, um dos 100 brasileiros mais influentes de 2009.
Pois o ex-ministro influente e tão longevo no ministério foi,
primeiro, conduzido, há meses, coercitivamente, pela Polícia Federal, à sede do
órgão, em São Paulo, no âmbito da Operação Zelotes, para depor em inquérito que
investiga reduções ou cancelamentos ilegais de multas a várias empresas
suspeitas de terem comprado decisões do Conselho
Administrativo de Recursos Fiscais – Carf, do Ministério da Fazenda, e delas se
beneficiado; agora, na quinta-feira passada, ele foi alvo da famosa
Operação Lava Jato, em sua 34ª fase, e preso temporariamente, mas logo solto, por
suspeita de corrupção, fraude em licitações, associação criminosa e lavagem de
dinheiro, em contratos assinados entre a
Petrobras e o consórcio Integra Offshore, composto pela OSX e Mendes Júnior,
para a construção das plataformas P-67 e P-70 para a exploração das reservas do
pré-sal, o mesmo pré-sal que ia ser a redenção do Brasil, mas tornou-se a
redenção financeira de dirigentes do PT e de partidos associados.
Falo sobre Mantega porque ele, junto com José Dirceu, o suposto
guerreiro do povo brasileiro, e, naturalmente, Lula, "comandante máximo do
esquema de corrupção identificado na Lava Jato", na expressão usada na
denúncia dele à Justiça, feita, em Curitiba, pelo Ministério Público Federal,
são, em conjunto, o que de mais simbólico, no mau sentido, há nos escândalos de
corrupção do PT. Segundo meu entendimento, o mais danoso para o país está em
que os assaltos a empresas estatais e fundos de pensão, afora a mineração em
veios auríferos menos rendosos, serviam, não exclusivamente, ao enriquecimento
dos dirigentes partidários; serviam, igualmente, a projeto de poder, cujas
táticas de ataque incluíam a desmoralização das instituições e de pessoas, de
tal forma que, enfraquecidas, elas não tivessem forças, como não têm na
Venezuela, de se opor ao mando petralha. Ao contrário, chancelariam, já aparelhadas,
um regime ditatorial que manteria aparências de democrático. Lembremos que
Hitler subiu ao poder por decisão do povo da Alemanha, pelo mecanismo de
eleições, mas antes ele e seu partido já haviam debilitado as instituições
democráticas alemãs.
Meu desacordo (digamos assim) com o PT não está, tão só, na
desonestidade de seus dirigentes, nem em sua mentalidade de bunker, que leva
seus adeptos a se verem como do Partido Escolhido divinamente para espargir o
bem monopolisticamente, pelas mãos de vanguarda partidária, que saberia o que é
bom para o povo, melhor do que o próprio povo. Minha discordância essencial nasce
tanto de seus métodos, como, por exemplo, a tentativa controle estatal de todos
os meios de comunicação, quanto de seus objetivos, consubstanciados no desejo
de hegemonia ditatorial.
O Brasil está mudando. Os devedores pagarão seus
débitos, com juros e juros de mora.
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