Imagine-se magro
Jornal O Estado do Maranhão
Eu me divirto bastante com especialistas de televisão, rádio e jornal. Às vezes penso que os mais engraçados são os da TV, em especial os participantes das onipresentes mesas redondas sobre futebol. Elas proporcionam aos autointitulados catedráticos do esporte a oportunidade de darem palestras hilárias, ao microfone, a milhões de pessoas e fazerem previsões quase nunca corretas. Mas, os das emissoras de rádio, em atitude de firme recusa a entregar o título do campeonato de obviedades, lançam, para ficar na linguagem futebolística, a bola nas costas dos da TV e saem proclamando vitória.
Na Copa do Mundo de futebol de 2006, eu falava sobre a sapiência futebolística destes últimos em suas pseudoanálise da Seleção brasileira e da ignorância empavonada deles. Um leitor de Recife, Luiz Alfredo Raposo, me enviou, então, esta perceptiva mensagem: “Lino, não pegue muito pesado nos ‘comentaristas’, o mais divertido neles é justamente a ignorância. [...] Ah, essa turma com sua ignorância que não se conhece garante 24 horas de espetáculo durante as copas do mundo.”.
Mas, insuperáveis, mesmo, merecedores de títulos mundiais de enrolação são os especialistas em perda de peso. Veja só, caro leitor, esta obra fundamental: Emagreça naturalmente com a dieta da Lua, escrito por uma tal de Franziska Von Au. Como entra a Lua nessa história, a acreditar-se na autora? Entra nas reações fisiológicas de quem segue a dieta, principalmente no poder calórico transmitido à alimentação. No quarto crescente, as calorias dos alimentos crescem, no quarto minguante, mínguam. Então o negócio é comer somente nesta última fase. Há na internet um saite com a recomendação para, quando a Lua mudar, você passar 24 horas sem comer nada. Assim, você perderá um quilo por semana. Mas, se não me engano, se alguém passar sistematicamente um dia inteiro sem comer, toda vez que a Lua mudar, vai perder até mais de um quilo, com ou sem a Lua.
Vejam mais estes: Nutrição espiritual e a dieta do arco-íris; Dieta do amor: aprenda a gostar de si mesmo; O jejum como dieta opcional; Imagine-se magro. Este último recomenda inflexível preparação mental para emagrecer. Feito isso, o corpo responderá com a diminuição da vontade de comer alimentos que engordam e com o aumento do desejo por aqueles com o efeito inverso. Tudo a fazer, em seguida, é um pequeno exercício de caminhar até o bar da esquina e pedir uma cervejinha bem gelada e um bom tira-gosto. Aí, é só mentalizar a perda de peso. É infalível.
Há quem proponha a proibição dessas obras, por exploração da boa-fé alheia. Eu, ao contrário, daria a elas incentivos, pelas piadas que são. Convocaria os assim chamados artistas, mas somente os que receberam grana sob o patrocínio da Lei Rouanet sem nunca contribuir com a prosperidade da sociedade, e os obrigaria, depois de aprovada lei adequada, a doar 90% da verba embolsada aos produtores de tais livros. Depois, faria os doadores involuntários organizarem passeatas carregando as seguintes faixas: “Não devo ficar sem fazer nada o dia inteiro. / Devo arrumar um emprego e parar de vagabundar.”, como os castigos que se davam nas escolas antigamente: “Não devo....”.
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