Palavras ou ações?

Jornal O Estado do Maranhão

          O novo período de governo da presidente Dilma teve início com a promessa de ela fazer tudo o que disse ser intenção de Aécio Neves. Política econômica de arrocho nas contas públicas, com o fim de equilibrá-las e conter pressões inflacionárias? Aécio Neves é quem iria fazer; deixar os malvados e insensíveis banqueiros mandar na política econômica, tirando, assim, comida da boca dos pobres? Era Marina quem iria permitir, com sua banqueira de estimação a tiracolo; cortar benefícios trabalhistas, como pensão, auxílio-doença e auxílio-desemprego? Seria coisa de Aécio Neves, que é “contra a classe trabalhadora”, como qualquer esquerdista de cabeça oca sabe. Ela cortou. No discurso de posse há três dias, porém, disse: “Reafirmo meu profundo compromisso com a manutenção de todos os direitos trabalhistas e previdenciários”. Deve-se acreditar em suas palavras ou em suas ações?
          Não, amigo leitor, não condeno Dilma por fazer tais supostas maldades. Ela vai fazer o que tem de ser feito ou estará liquidada politicamente. É dela a responsabilidade de governar o Brasil, não de Lula, presidente-adjunto em exercício. O julgamento histórico das ações da presidente dos próximos quatro anos terá seu nome na lista dos acusados, não o Silva, nome parente, como dizem os filólogos, de selva; selva escura, digo eu, aquela da Comédia dantesca.
          Voluntarismo como o dela sempre levou a acidentes. Lembram-se de minha afirmação aqui mesmo acerca de sua vontade, no início do primeiro mandato, de diminuir a taxa de juros? Ela prometeu baixá-la na marra, como se “vontade política” fosse a causa de sua elevação anterior, e baixou mesmo. Vontade mais alta, todavia, se alevantou, a dita realidade. Nisso, o velho barbudo e cheio de furúnculos no bumbum tinha razão. Não são as ideias das pessoas as verdadeiras autoras de mudanças da realidade. Esta é que muda as ideias. Dilma recuou, com taxas mais altas agora em comparação com o início de sua administração. Em verdade, altas como nunca antes na história deste país, com a economia parada.
          Não a culpo totalmente por essas barbeiragens. Devemos reconhecer honestamente que ela enfrentou conjuntura internacional desfavorável, não sendo este o caso de seu antecessor. Contudo, ela demorou a tomar medidas adequadas internamente, como essa da elevação dos juros, ou do corte de gastos, anunciadas somente agora, depois das promessas enganosas da campanha. Aqui, sim, devia seguir o exemplo de Lula da Silva e se tornar mais neoliberal, ainda, do que ele o foi na política econômica durante um tempo.
          A realidade está mudando a maneira de Dilma ver os fenômenos econômicos. Lembro agora de outro exemplo dela, de conflito com as coisas como elas são: sua participação na guerrilha urbana na época do regime militar, a querer transformar o mundo apenas com a determinação ingênua de derrubar o regime de então pelas armas, sem, sequer, as condições materiais mais elementares para fazê-lo. A Ideia iria solucionar todos os problemas do processo de luta. Quanto marxismo de araque! Dessa maneira, os adversários do socialismo poderiam gritar sem receio de ser contestados: Mil anos para o capitalismo. Morte ao socialismo!
          A rendição tardia de Dilma às políticas ditas neoliberais, a contragosto ou não, é o caminho certo com o fim de consertar as trapalhadas do primeiro período. Teremos esperanças, contudo, quando o ministério por ela escolhido é visto quase unanimemente como de inacreditável mediocridade? Salvam-se tão só, os membros da equipe econômica. Como compensação a este ponto positivo, seu conselheiro econômico no Palácio do Planalto atende pelo nome de Aloizio Mercadante, aquele que renunciou em caráter irrevogável à liderança do PT no Senado num dia e, no seguinte, depois de levar uma esculhambação apedêutica, disse no primeiro pronunciamento após sua volta ao cargo: “Eu não poderia deixar de atender a um pedido do companheiro, Lula”. Romântico demais.
          Esse homem de caráter sem jaça como diamante perfeito e como o Partido dos Trabalhadores tem o ouvido de Dilma em assuntos econômicos!

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