Programa de pesquisa
Jornal O Estado do Maranhão
A revolução modernista de 1922 chegou ao Maranhão somente em 1946, com Bandeira Tribuzi, de volta de Portugal, para onde fora com o fim de estudar em Coimbra, e de Lucy Teixeira, vinda de Minas Gerais, onde conviveu com grandes nomes da literatura mineira e da nacional. Veio dela o primeiro e mais forte incentivo à minha experiência de escrever crônicas e, depois, com a seleção de algumas delas, publicá-las no livro Pedaços da eternidade, que, imagino, teve boa acolhida do público. Ela e Tribuzi, com quem eu, um jovem economista recém-formado, trabalhei no extinto Banco de Desenvolvimento do Maranhão – BDM, difundiram a partir daquela época o Modernismo entre nós.
O acadêmico José Sarney, por ocasião da sessão magna comemorativa do centenário da Academia Maranhense de Letras – AML em 2008, quando eu presidia a instituição, sobre Lucy, afirmou que “tinha flores nas palavras”. Antes, ao recepcioná-la por ocasião de sua posse na AML, já resumira com precisão: “Dois grandes polos marcam a vida literária daqueles anos. A importância que iriam ter na nova geração é marcante [...]. Tribuzi traz os poetas novos portugueses, lança em termos do presente os reencontros da lírica portuguesa no Maranhão. E Lucy o acompanha nos caminhos da nova poesia, nas perplexidades dos jovens, numa busca angustiosa de novas formas, novas expressões”.
Inicialmente, formou-se um pequeno grupo em volta dos dois: Carlos Madeira, Luís Carlos Bello Parga, Murilo Ferreira, Evandro Sarney, José Sarney. Logo depois, Ferreira Gullar e Lago Burnett. Um pouco mais adiante, Manuel Lopes, Cadmo Silva, Domingos Vieira Filho, Reginaldo Telles, Vera Cruz Santana, José Bento, José Filgueiras, José Brasil, Raimundo Bogéa, José Chagas, Agnor Lincoln da Costa. Quase toda a nossa produção intelectual até aquele momento voltava-se para um passado simultaneamente real idealizado, clara forma de compensação psicológica pela decadência do presente, e continuava aprisionada aos padrões românticos e parnasianos vigentes no começo do século XX, já superados havia quase três décadas. O retorno de Lucy e Tribuzi mudou muita coisa.
Por volta de 1950, já faziam parte da AML, depois de período de apatia, jovens ligados aos movimentos de renovação, como Franklin de Oliveira, Pedro Braga Filho e Corrêa da Silva, e, pouco mais tarde, Lago Burnett, Odylo Costa, filho, José Sarney e Domingos Vieira Filho.
Apesar de algumas mudanças de lá até agora e de todo o esforço de algumas pessoas solitariamente bem como de várias instituições, nossa sociedade padece ainda das limitações culturais onipresentes, embora, felizmente, não onipotentes, características de nossa atmosfera mental mais do que centenária. Permanecemos deficientes em estudos e pesquisas consistentes sobre as nossas realidades econômica, social e política. Um exemplo só: não pesquisamos ainda sobre a possível existência de mercado interno dinâmico aqui no período colonial, a exemplo do que fez Jorge Caldeira no seu História do Brasil com empreendedores, para o Brasil, a fim de confirmar ou não o modelo “agrário-exportador” e o papel do latifúndio em nossa formação econômica, como analisados por Caio Prado Júnior; consideramos o estudo e uso da teoria como ocupação de sonhadores desligados da realidade, na suposição de serem reflexões teóricas antagônicas à prática e não um guia seguro da ação consequente e responsável; fazemos muitos versos e pouca poesia, com as boas exceções de sempre; não escrevemos quase nenhuma ficção e quando o fazemos, corremos o risco de reinventar a roda ou redescobrir o fogo, porque não nos preocupamos em acompanhar as novas correntes de pensamento ou os movimentos de renovação surgidos fora daqui. Em tudo ressalvo os esforços desses bravos lutadores contra as forças da entropia intelectual e a favor de nossa sintonia com a dinâmica do mundo moderno.
Quem sabe as breves notas que aqui acabo de deixar possam servir à reflexão dos pesquisadores locais no estabelecimento de necessário programa de pesquisa sobre a economia do Maranhão.
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