Questão de princípio




Jornal O Estado do Maranhão

          Alguns leitores têm me confrontado por suposta implicância com o PT. Quem, no entanto, tiver a paciência de percorrer minhas crônicas desde a ascensão do partido ao poder, nelas encontrará vários elogios à política econômica lulista, apontando sua correta ortodoxia e continuidade relativamente ao governo anterior. Tal orientação petista, em paralelo a condições favoráveis às commodities brasileiras nos mercados internacionais, nos proporcionou período de tranquilidade com respeito a inflação e crescimento.
          A partir do segundo mandato, Lula iniciou o relaxamento das vigilâncias fiscal e monetária, mudança levada adiante por Dilma. Começamos, assim, a sofrer ameaça do populismo econômico de que resultaram as fortes pressões inflacionárias de agora. Era a volta da ideia obsoleta, àquela altura já completamente desacreditada, a não ser nos países bolivarianos, de que uma inflação um pouco alta não faz mal à economia e ajuda a manter o pleno emprego. Aliás, em recente debate no SBT, a presidente afirmou que só se pode ter inflação de 3% ao preço de 15% de desemprego, sinalizando a manutenção da política frouxa de combate à inflação. Não conheço o manual de economia por ela utilizado. Ouviu falar, talvez, na curva de Phillips, que postula relação inversa entre taxas de inflação e desemprego, válida porém apenas no curto prazo, e confundiu tudo. Por coerência com essa ideia, ela poderia então deixar a inflação subir até não se sabe onde, a fim de alcançar taxa de desemprego zero.
         É evidente a existência de gente desonesta em todos os partidos. Mas, entre os grandes, apenas o PT transformou a roubalheira em prática carimbada como virtuosa. Não é isso que faz ao chamar de heróis seus dirigentes condenados pelo STF? As questões centrais dessa batalha atual pela presidência da República não são os infinitos esquemas de subtração do nosso dinheiro em benefício do partido e dos ladrões petistas, e o uso do aparelho do estatal em benefício próprio. O combate a esse tipo de crime deveria ser apenas corriqueiro, trabalho constante da polícia e outras instituições legalmente capacitadas a isso. Julgo essencial que se tenha plena consciência da guerra de valores em curso, cujo desfecho condicionará os destinos da nação pelas décadas vindouras. De quais estamos falando?
          O mais importante é a democracia como valor em si mesmo. Não se pode trocar a liberdade por um pouco mais de bem estar material ou por suposto benefício “aos mais pobres”. Essa visão prevaleceu nos antigos países comunistas com resultados trágicos em termos de perda de liberdade, morte por fome e execução de milhões de pessoas. Esse é, para mim pelo menos e, creio, a maioria dos brasileiros, um ponto inegociável. O tal “controle social da mídia”, cuja implantação o PT tenta impor, é a primeira linha de ataque à democracia e deve, portanto, ser rejeitado liminarmente. Pelo observado já agora, com os adversários sofrendo ataques sujos financiados com dinheiro público, pode-se imaginar como seria depois.
          Em seguida, vêm os princípios de ordem moral. Não existe e não pode existir crime do bem. Crime é crime mas, infelizmente, o PT tem a alma leninista: tudo vale na conquista e manutenção do poder. Não se pode roubar e depois alegar que o roubo foi por uma boa causa, por exemplo, a suposta melhoria da distribuição da renda pessoal dos agentes econômicos. Note-se, a este respeito, que a igualdade a ser almejada pelas sociedades civilizadas é a de oportunidade, não de resultados.
          Por fim, a democracia não pode existir no vácuo, necessita de instituições que a façam funcionar adequadamente. Esse o motivo de ser obrigação de todos contribuir para a manutenção e aperfeiçoamento dessas instituições. Sem elas, a aplicação dos princípios democráticos fica fragilizada. O que faz o PT, no entanto? Tenta desmoralizar o Supremo e a Justiça, comprar o Congresso com o Mensalão e aparelhar o Executivo. Aí está. Eu não implico com petistas. Condeno o partido em nome de certos princípios caros às sociedades democráticas. Por eles devemos lutar.

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