Abaixo o déficit

Jornal O Estado do Maranhão

          O novo Grande Satã das esquerdas brasileiras são os bancos. Não apenas os comuns, desses encontrados em qualquer esquina. Igualmente, o Banco Central, cuja função nas economias de mercado como é a nossa é de responsável por evitar a diminuição, causada pela inflação, do valor real da moeda, seria sem dúvida acusado, na hipóteses de a ele ser dada independência formal, pelas frequentes barbeiragens da política econômica implantada no Brasil pelo Partido. (Escrevo assim, com maiúscula no início porque só existe verdadeiramente um partido no Brasil que representa os verdadeiros interesses, sonhos e aspirações da sociedade brasileira, o PT).
          Os chefões do Partido não podem ser tão analfabetos em matéria econômica a ponto de não saberem a utilidade de um BC e desconhecerem o modelo administrativo adequado a sua tarefa de bem defender a moeda nacional. A conversa mole contra a instituição serve ao fim de mobilizar o analfabetismo dos chamados militantes e também, na imaginação desse pessoal, ao marketing supostamente positivo a favor do governo e contra os banqueiros. Na mitologia petralha mais primária, estes são piores até do que os capitalistas industriais. A independência do BC seria assim, uma forma, no plano retórico dos companheiros, de dar aos donos dos bancos liberdade de fazerem o que bem entenderem com a economia brasileira. Coisa da conhecida sofisticação intelectual à moda PT.
          O curioso é que até agora os bancos doaram à campanha de Dilma mais de duas vezes os valores doados às de Aécio e Marina, somados. Excluído o ano de 2014, contando-se, portanto, unicamente três anos, os bancos tiveram no mandato de Dilma lucro total de R$ 115,75 bilhões, quase duas vezes os R$ 63,63 bilhões ao longo de oito anos de Fernando Henrique. Nos dois mandatos de Lula, os ganhos atingiram R$ 254,76 bilhões. Em média anual, o lucro do sistema financeiro foi de R$ 38,58 bilhões com Dilma; com Lula, de R$ 31,84 bilhões; e com Fernando Henrique, de R$ 7,95 bilhões. As administrações do PT tiveram onze anos para dar um basta na farra dos banqueiros malvados, insaciáveis e monopolizadores das finanças do país. Não fizeram nada, deixando que os lucros não apenas não diminuíssem, mas aumentassem em 21%, na comparação da média anual de Dilma com a de Lula. No cotejo de Dilma com Fernando Henrique, o aumento dos lucros do setor financeiro, também tomando a média anual, vai a escandalosos 383%. Estavam ocupadas as autoridades em controlar a imprensa e se descuidaram dos banqueiros?
          Não é de admirar à vista desses números a generosidade do setor com a campanha da presidente-candidata. Fossem os banqueiros sujeitos bonzinhos, em vez desses vampiros da prosperidade nacional, as doações chegariam a quanto? A bilhões de reais?
          Voltemos à independência do BC. A presidente Dilma prometeu diminuir os juros vigentes no Brasil e cumpriu a promessa. Como? Chamou o presidente do BC e exigiu que tal medida fosse adotada. Ordem atendida, daí a algum tempo, o BC foi obrigado pelas circunstâncias econômicas a voltar atrás e elevar os juros com a concordância dela. Maldade de Dilma ou do BC? De modo algum. Os juros sobem não pela perversidade dos governos, mas pela incompetência deles. A elevação deriva de gastos públicos acima das receitas. Para cobrir o buraco assim criado, o Tesouro Nacional oferece no mercado títulos. Estes somente serão aceitos pelos potenciais compradores privados se os juros forem altos o suficientes para compensar a crescente possibilidade de o governo cada vez mais deficitário dar calote de sua dívida. Se os juros não aumentassem, ele entraria em colapso por falta de quem financiasse o déficit, após um período de aumento da inflação causada por juros baixos, sem corte do déficit. Dilma recuou a tempo. Mas, a pressão inflacionária permaneceu porque as contas do governo continuaram deficitárias. Com um BC independente tais idas e vindas e suas consequências deletérias não ocorreriam. A solução permanente, mas não indolor, está em derrubar o déficit.
          Quem o fará em época de eleições?

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