O que Lula acha de verdade do Bolsa Família
30/10/2013
às 19:54Lula, o Bolsa Família, os detalhes de uma farsa e uma falha escandalosa da imprensa
Já
expus a questão aqui algumas vezes. Mas que se volte ao ponto, ué, se
isso se mostra necessário. O governo Dilma promoveu nesta quarta uma
cerimônia de comemoração dos 10 anos do “Bolsa Família”. Em si, já se
trata de uma fraude. As práticas reunidas sob a rubrica “Bolsa Família”
estavam em curso no governo FHC. O que o petismo fez foi reuni-las, o
que, no caso, foi uma boa medida. Mas não criou nada. O
convidado de honra do evento foi Lula. Falou, como de hábito, pelos
cotovelos. Disse que são preconceituosos os que afirmam que os pobres
recorrem ao Bolsa Família porque não querem trabalhar. Mas esperem aí:
quem acha? Quase ninguém, que se saiba!
Afirmou o ex-presidente:
“O que essa crítica denota é uma visão extremamente preconceituosa no nosso país. Significa dizer que a pessoa é pobre por indolência, e não porque nunca teve uma chance real em nossa sociedade. É tentar transmitir para o pobre a responsabilidade pelo abismo social criado pelos que sempre estiveram no poder em nosso país”.
“O que essa crítica denota é uma visão extremamente preconceituosa no nosso país. Significa dizer que a pessoa é pobre por indolência, e não porque nunca teve uma chance real em nossa sociedade. É tentar transmitir para o pobre a responsabilidade pelo abismo social criado pelos que sempre estiveram no poder em nosso país”.
Que coisa! Já demonstrei aqui dezenas de vezes que o primeiro
a dizer que os programas de bolsas deixavam os pobres vagabundos foi
Lula. E o fez de maneira explícita, arreganhada. No vídeo abaixo, ele
aparece em dois momentos: exaltando o Bolsa Família, já presidente da
República, e no ano 2000, quando chamava os programas de assistência
direta (como o Bolsa Família) de esmola. Vejam.
Pobre vagabundo
Mas foi bem mais explícito. Nos primeiros meses como presidente, Lula era contra os programas de bolsa que herdou de FHC. Ele queria era assistencialismo na veia mesmo, distribuir comida, com o seu programa “Fome Zero”, uma ideia publicitária de Duda Mendonça, que ele transformou em diretriz de governo. Deu errado. O Fome Zero nunca chegou a existir.
Mas foi bem mais explícito. Nos primeiros meses como presidente, Lula era contra os programas de bolsa que herdou de FHC. Ele queria era assistencialismo na veia mesmo, distribuir comida, com o seu programa “Fome Zero”, uma ideia publicitária de Duda Mendonça, que ele transformou em diretriz de governo. Deu errado. O Fome Zero nunca chegou a existir.
Já demonstrei isso aqui.
No dia 9 de abril de 2003, com o Fome Zero empacado, Lula fez um
discurso no semiárido nordestino, na presença de Ciro Gomes, em que
disse com todas as letras que acreditava que os programas que geraram o
Bolsa Família levavam os assistidos à vagabundagem. Querem ler? Pois
não!
Eu, um dia
desses, Ciro [Gomes, ministro da Integração Nacional], estava em
Cabedelo, na Paraíba, e tinha um encontro com os trabalhadores rurais,
Manoel Serra [presidente da Contag - Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura], e um deles falava assim para mim: “Lula,
sabe o que está acontecendo aqui, na nossa região? O povo está
acostumado a receber muita coisa de favor. Antigamente, quando chovia, o
povo logo corria para plantar o seu feijão, o seu milho, a sua
macaxeira, porque ele sabia que ia colher, alguns meses depois. E,
agora, tem gente que já não quer mais isso porque fica esperando o
‘vale-isso’, o ‘vale-aquilo’, as coisas que o Governo criou para dar
para as pessoas.” Acho que isso não contribui com as reformas
estruturais que o Brasil precisa ter para que as pessoas possam viver
condignamente, às custas do seu trabalho. Eu sempre disse que
não há nada mais digno para um homem e para uma mulher do que levantar
de manhã, trabalhar e, no final do mês ou no final da colheita, poder
comer às custas do seu trabalho, às custas daquilo que produziu, às
custas daquilo que plantou. Isso é o que dá dignidade. Isso é o que faz
as pessoas andarem de cabeça erguida. Isso é o que faz as pessoas
aprenderem a escolher melhor quem é seu candidato a vereador, a
prefeito, a deputado, a senador, a governador, a presidente da
República. Isso é o que motiva as pessoas a quererem aprender um pouco
mais.
Notaram a verdade de suas palavras? A convicção profunda? Então…
No dia 27
de fevereiro de 2003, Lula já tinha mudado o nome do programa Bolsa
Renda, que dava R$ 60 ao assistido, para “Cartão Alimentação”. Vocês
devem se lembrar da confusão que o assunto gerou: o cartão serviria só
para comprar alimentos?; seria permitido ou não comprar cachaça com
ele?; o beneficiado teria de retirar tudo em espécie ou poderia pegar o
dinheiro e fazer o que bem entendesse?
A questão se arrastou por meses. O tal programa Fome Zero, coitado!, não saía do papel. Capa de uma edição da revista Primeira Leitura da época: “O Fome Zero não existe”. A imprensa petista chiou pra chuchu.
No dia 20
de outubro, aquele mesmo Lula que acreditava que os programas de renda
do governo FHC geravam vagabundos, que não queriam mais plantar
macaxeira, fez o quê? Editou uma Medida Provisória e criou o Bolsa
Família? E o que era o Bolsa Família? A reunião de todos os programas
que ele atacara em um só. Assaltava o cofre dos programas alheios,
afirmando ter descoberto a pólvora. O texto da MP não deixa a menor
dúvida:
(…) programa de que trata o caput tem por
finalidade a unificação dos procedimentos de gestão e execução das ações
de transferência de renda do Governo Federal, especialmente as do Programa Nacional de Renda Mínima vinculado à Educação – “Bolsa Escola”, instituído pela Lei n.° 10.219, de 11 de abril de 2001, do Programa Nacional de Acesso à Alimentação – PNAA, criado pela Lei n.° 10.689, de 13 de junho de 2003, do Programa Nacional de Renda Mínima vinculado à Saúde – “Bolsa Alimentação”, instituído pela medida provisória n.° 2.206-1, de 6 de setembro de 2001, do Programa Auxílio-Gás, instituído
pelo Decreto n.° 4.102, de 24 de janeiro de 2002, e do Cadastramento
Único do Governo Federal, instituído pelo Decreto n.° 3.877, de 24 de
julho de 2001.
Compreenderam?
Bastaram sete meses para que o programa que impedia o trabalhador de
fazer a sua rocinha virasse a salvação da lavoura de Lula. E os
assistidos passariam a receber dinheiro vivo. Contrapartidas: que as
crianças frequentassem a escola, como já exigia o Bolsa Escola, e que
fossem vacinadas, como já exigia o Bolsa Alimentação, que cobrava também
que as gestantes fizessem o pré-natal! Esse programa era do Ministério
da Saúde e foi implementado por Serra.
E qual passou a ser, então, o discurso de Lula?
Ora, ele
passou a atacar aqueles que diziam que programas de renda acomodavam os
plantadores de macaxeira, tornando-os vagabundos, como se aquele não
fosse rigorosamente o seu próprio discurso, conforme se vê no vídeo.
A imprensa
Notem: o que vai acima não é uma invenção
minha. Lula efetivamente achava que políticas assistenciais viciavam os
pobres e corrompiam suas respectivas consciências. Lula efetivamente
achava que os programas que resultaram no Bolsa Família desestimulavam a
plantação de macaxeira… Se alguém achava que um assistido pelo
benefício se tornava vagabundo, esse alguém era… Lula!
Não
obstante, ele é convidado para o aniversário do programa, faz
proselitismo da pior espécie e é poupado de seu próprio passado e de
suas próprias palavras.
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