Jornal O Estado do Maranhão
A 7ª Feira do Livro de São Luís, promovida pela Prefeitura da cidade com o apoio da Secretaria de Cultura do Estado, EMBRATUR e Associação dos Livreiros do Estado do Maranhão, agradou aos participantes e frequentadores do evento que já vai se tornando tradição, boa tradição. Quando a primeira foi feita, ainda na gestão do prefeito Tadeu Palácio, meu contemporâneo e colega no colégio Marista, muita gente, inclusive eu, não acreditava que iria durar.
Explicável tal expectativa porque baseada no antigo e pernicioso hábito de nossos dirigentes de não darem sequência a projetos, ruins ou bons, de gestões anteriores apenas por isso, por serem de gestões anteriores. Felizmente, continuidade da Feira vai desmentindo a opinião de que velhos hábitos são duros de morrer e esse certamente já se encontra em estado terminal, pelo menos em relação ao importante acontecimento.
Este ano, tivemos frutífera parceria entre as administrações do Município e do Estado. A deste, entre outras providências, cedeu prédios para uso pela Feira, entendimento alcançado com o fim de desmentir outro equívoco, o da impossibilidade de cooperação entre as duas esferas de governo, quando a cultura maranhense dela necessita. Por aí se vê que o livro, eterno como é, será sempre, além de suporte, elemento de convergência cultural e política quando o bem comum do nosso povo assim o exige.
Justa, justíssima a escolha do poeta Nauro Machado como patrono da Feira e muito feliz a iniciativa de trazer outro grande poeta, carioca, talvez o melhor de sua geração no Brasil, e igualmente ensaísta, crítico e tradutor, Ivan Junqueira, com o fim de falar sobre a obra do maranhense. Não sei se ele deixou aqui o texto de sua palestra, cujo título é A Obra de Nauro Machado no Contexto da Poesia Brasileira. Se o fez, deveria ser publicado a fim de não se perder.
O evento, por sua realização na Praia Grande, no Centro Histórico, adquire um charme especial. Afinal, andar por aquelas ruas é encontrar-se com nossa história, como ela se desenrolou a partir do último quartel do século XVIII e se materializou, em especial, na herança de belos sobrados. Em mim, aquela área desperta lembranças da juventude, quando eu ia ao escritório de meu pai, na escadaria do beco Catarina Mina, e ficava a ver um homem numa mesa ao lado da dele, falando um português com um sotaque estranho aos meus ouvidos, inicialmente, embora compreensível a maior parte do tempo. Era o comerciante, Antônio Azevedo, de quem meu pai era sócio na firma Azevedo & Moreira, de representação e conta própria. Eu poderia perguntar, como a saloia portuguesa a sua companheira, quando Pedro Braga dos Santos, no interior de Portugal, pediu informações às duas: “Que diabo de língua esse gajo está a falaire que a gente entende quase tudo?”.
Mas, algo inusitado houve na Feira, ao se ponderar ser ela “do Livro”. O espaço das editoras e livrarias foi, segundo avalio, muito pequeno. Relatam-me livreiros, organizadores e várias outras pessoas interessadas em livros, tanto como leitores quanto como escritores, a quem expus minha surpresa, o veto do IPHAN à utilização da rua Portugal para a ampliação do espaço destinado aos livros. Os argumentos eram o da proteção de seu calçamento contra a ameaça de possíveis buracos a serem feitos durante a montagem dos estandes bem como o da preservação da visão dos passantes relativamente aos prédios históricos. Contudo, como visto após a desmontagem, no local onde foram assentados, nenhum dano ocorreu. Quanto ao prejuízo à visão, não sei como estandes de 2 a 3 metros de altura poderiam obstruir a visão de prédios tão altos como aqueles da rua Portugal, que ficou subutilizada, sem o necessário realce.
O Centro Histórico pertence à todos nós. A finalidade de sua preservação não é apenas a de mera contemplação, mas de uso pelos moradores da cidade dentro de regras claras, pré-estabelecidas em discussão aberta e franca entre as partes envolvidas. Com vistas à Feira do próximo ano, ela deve se iniciar agora, já, já. Só desse modo, se encontrará boa solução do problema.
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