Discurso de saudação na posse de Phelipe Andrès na Academia Maranhense de Letras 23/5/2013



Cadeira 23
Fundador: Clodoaldo Cardoso; Patrono: Graça Aranha
Recepção a Luiz Phelipe Andrès em sua posse na
Academia Maranhense de Letras

          Senhor, presidente da Academia Maranhense de Letras, Benedito Buzar, etc..
          Aporta hoje na Academia Maranhense de Letras – os senhores logo compreenderão por que uso um verbo que lembra simultaneamente terra e mar – o mais maranhense dos mineiros ou, dizendo com mais precisão – que não é a da necessidade, mas a da justiça a quem tanto tem amado São Luís –, o mais ludovicense dos mineiros, pois tendo aqui se estabelecido há quase quatro décadas, muito mais com ações do que com palavras tem demonstrado sua paixão por esta cidade.
          Permitam-me, senhores e senhoras, lembrar-lhes a trajetória de Phelipe nestas terras.
          Chegou no fim dos anos setenta com uma ilusão, a de encontrar uma Ouro Preto à beira-mar, e uma certeza, a de ter sido escolhido pela cidade, não de ter feito a escolha do lugar onde moraria pelo resto da vida, para que o chão amado o acolhesse, como o acolherá, como um bom filho. Isto avalio pelo sinais quase diários que tem dado desde sua chegada.
          Ao sair de Minas Gerais, Juiz de Fora, à procura do mar, Phelipe não veio logo para São Luís. Foi primeiro estudar engenharia civil operacional no Rio de Janeiro e, nos momentos de folga, artes plásticas com Ivan Serpa, pintor e desenhista brasileiro que na primeira Bienal de São Paulo foi considerado o melhor artista jovem da mostra. Ivan, tendo iniciado sua carreira no figurativismo, passou ao não figurativismo de Mário Pedrosa, de quem a saudosa acadêmica Lucy Teixeira, que nesta Casa me recebeu, era fraternal amiga, a seguir passou ao concretismo, retornando nos anos sessenta ao expressionismo e logo a seguir a uma fase erótica, chegando ao neoconcretismo e à chamada nova objetividade a partir de 1967.
          Recém-formado em 1977, Phelipe retomou suas atividades no campo das artes gráficas, fazendo ilustrações de livros de ciências do primeiro grau para a Companhia Editora Nacional e para a Engenharia Sanitária, da Secretaria de Divulgação do antigo BNH, revista cujas capas também desenhava.
          Em encontro casual na rodoviária de São Paulo, um amigo, Roberto Martins, dizia-lhe, enigmático:

         No momento em que decidimos nos mudar, não nos cabe escolher a próxima        morada, mas sim aguardar com atenção para sermos escolhidos pela própria cidade.

          Recomendou então ao amigo que ficasse atento porque logo iria por uma ser chamado e adotado. Naquela década, Phelipe, sentindo a pressão dos problemas das grandes metrópoles brasileiras, pensava em procurar um lugar mais tranquilo para se estabelecer, com a única exigência de ser junto ao mar.
          Voltou ao Rio de sua curta viagem e nas semanas seguintes, no trabalho, conheceu quatro maranhenses hábeis em lhe cantar as belezas da São Luís histórica: a então recém-formada médica nefrologista Simone Lameiras, o engenheiro Selísio Santiago, hoje um apicultor de renome, o grande violonista João Pedro Borges, Sinhô, que fazia seu concerto de estreia no Museu de Arte Moderna, do Rio de Janeiro, e o engenheiro Miguel Rodrigues Nunes, na ocasião presidente da Cemar. Este, já falecido, ofereceu a ele um emprego na empresa estatal no momento sob sua direção. Phelipe veio, pois, desde o convite de Miguel, passou a creditar nos desígnios a ele revelados por Roberto Martins. Ela fora chamado pela cidade. Mais tarde, seria plenamente adotado.
          Duas coisas lhe chamaram imediatamente a atenção. Em suas palavras, primeiro


          a dimensão do conjunto arquitetônico do Centro Histórico e segundo [...] a beleza das velas coloridas das embarcações tradicionais ancoradas ali no Portinho bem em frente à igreja do Desterro.

          Mas, a ilusão depressa se desfez pois, afora o fato de serem ambas, São Luís e Ouro Preto, cidades históricas, quase nada mais tinham em comum quanto ao estilo arquitetônico e datação, extensão e homogeneidade de seus acervos.
          Parte pequena de sua família estendida já aqui se encontrava, como ele soube nas primeiras semanas, quando apresentado por Antoninho Duailibe a primos maranhenses conhecidos dele apenas de nome, Renato e César, filhos de sua prima Irene Andrès, casada com o maranhense Carlos Cruz.
          Pouco depois, no município de Mirinzal, a serviço da cemar, recebeu uma carta de seu tio Nonô, uma daquelas figuras, que, imagino, se fixa não no inconsciente coletivo, mas no da própria família, pois ele era um homem afeiçoado a viajar, conhecer outras terras. Tinha histórias para contar e as contava. Estivera em São Luís nos anos sessenta. Perguntava se Phelipe já conhecera a Pedra da Memória, a Pirâmide de Bequimão e o Cais da Sagração. Não, não conhecera ainda, mas em pouco tempo conheceria esses e praticamente todos os outros monumentos da cidade, tendo iniciado no antigo Projeto Rondon, dirigido na época por Carlos José Nogueira Fontoura, meu colega de trabalho no extinto Banco de Desenvolvimento do Maranhão, a jornada que o conduziu a ser o maior conhecedor do centro histórico de São Luís e responsável, em grande parte, pela preparação do dossiê apresentado em Paris à unesco, documento essencial à obtenção por São Luís, do título de Patrimônio Mundial.
          O Rondon ia iniciar pesquisa sobre monumentos históricos de São Luís, Alcântara e Rosário. Phelipe apresentou-se como voluntário, com a permissão e o incentivo de Miguel Nunes, e foi escolhido coordenador do trabalho. A decisão lhe alterou radicalmente a trajetória profissional e a vida. O livro Monumentos históricos do Maranhão resultou daí. Em vez de engenharia, passou a tratar de monumentos históricos.
          Lembro muito bem de quando fui procurado por ele ainda em 1977 – tantos anos faz, época em que eu preparava as malas para ir estudar economia nos Estados Unidos, onde permaneci cinco anos sem vir ao Brasil uma única vez – e pelo arquiteto americano John Gisiger, o principal responsável pelo estabelecimento das bases conceituais do Programa de Preservação e Revitalização do Centro Histórico de São Luís. Eles procuravam fontes de financiamento para seus projetos, mas o BDM não dispunha de nenhuma então.
          Foram as ideias de John, consubstanciadas num plano de recuperação do centro histórico, que levaram à realização de um encontro nacional em São Luís, a I Convenção da Praia Grande, com o fim de discutir a preservação do acervo arquitetônico da cidade, dando origem ao Plano de Preservação Integrada.
           Sua execução vem se dando por mais de três décadas. Phelipe o dirigiu até 2006. Quem desejar verificar o quanto houve de mudanças na fisionomia daquele conjunto terá uma fonte de informação inestimável no livro Reabilitação do centro histórico, patrimônio da humanidade, Maranhão, Brasil, publicado no fim de 2012, baseado em sua tese de mestrado apresentada à Universidade Federal de Pernambuco. Lá será fácil ver, não apenas pela descrição dos projetos, mas, em especial, pelo contraste de fotografias de antes e depois da recuperação, a imensa obra. As fotos provocam tal impacto que o leitor por acaso esquecido da longa degradação do centro de São Luís não poderá deixar de se lembrar de como ele se encontrava, como é hoje e o quanto houve de avanço.
          Dezenas de prédios foram recuperados, depois de décadas de abandono; terrenos baldios retomados do lixo e da ação de marginais; escolas implantadas, a exemplo dos Centros Tecnológicos, a Escola de Arquitetura da Universidade Estadual do Maranhão e a Escola de Música do Maranhão; o trânsito caótico e veículos pesados proibidos em ruas antes mal iluminadas e esburacadas; as fiações elétrica e telefônica obsoletas, substituídas por modernas redes subterrâneas e implantadas casas de cultura, museus, teatros, cinemas e espaços para os artistas produzirem e exporem seus trabalhos.
          Alcançcaram-se resultados tão bons porque, desde o início, os cidadãos simples que teriam suas vidas afetadas pelas mudanças participaram efetivamente e não apenas retoricamente ou por modismos participatórios da formulação e implementação dos projetos, como o da Feira da Praia Grande, expressando seus pontos de vista e chamando a atenção dos responsáveis para as consequências potencialmente negativas da ausência no Programa da comunidade diretamente interessada, pois suas vidas seriam afetadas pelas mudanças.
           O trabalho de Phelipe deu a ele excelente e sólida reputação nacional. Ele acabou fazendo parte do Conselho Consultivo do IPHAN em Brasília. Como conselheiro, ele elaborou substancial conjunto de pareceres que resultaram, sempre por aprovação unânime, no tombamento ou no registro de bens materiais e imateriais do patrimônio histórico e cultural brasileiros. Dou apenas a lista, sem detalhes, em favor da brevidade.

1) Terreiro Casa das Minas Jeje, em São Luís, 22/8/2002.

2) Rerratificação da área de tombamento do conjunto arquitetônico e urbanístico de Alcântara, no Maranhão, 22/8/2002.

3) Terreiro de Candomblé conhecido mundialmente como Terreiro de Mãe Menininha do Gantois, Salvador, 21/11/2002.

4) Sítio histórico e paisagístico de Piranhas, Alagoas,17/12/2003.

5) Terreiro do Alaketo, em Salvador, 11/12/2004.

6) Pátio ferroviário da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, bem como seus bens móveis e imóveis, Porto Velho, 17/12/2005.

7) Frevo de Pernambuco, que em 2013 passou a fazer parte da lista do Patrimônio Mundial da Unesco, na categoria dos Bens Intangíveis, 9/2/2007.

8) Conjunto histórico e paisagístico de Parnaíba, 10/9/2008.

9) Núcleo urbano histórico de Iguape, no vale da Ribeira, no litoral Sul de São Paulo, 3/12/2009.

10) Núcleo da vila Serra do Navio, município de Serra do Navio, localizado no meio da selva amazônica, Amapá, 15/04/2010.

11) Núcleo urbano de Santa Tereza, município de Santa Tereza, no vale dos Vinhedos, Rio Grande do Sul, 5/11/2010.

12) Canoa de tolda Luzitânia, da Sociedade Socioambiental do Baixo São Francisco; saveiro de vela de içar, de nome Sombra da Lua, no Recôncavo Baiano; canoa costeira de nome Dinamar, da baía de São Marcos, aqui no Maranhão; canoa de pranchão do Rio Grande do Sul, de nome Tradição; acervo do Museu Nacional do Mar, no município de São Francisco do Sul, Santa Catarina, 8/12/2010.

13) Conjunto histórico e paisagístico de Jaguarão e a ponte Mauá, ambos no município de Jaguarão, cidade de fronteira com o Uruguai, Rio Grande do Sul, 3/5/2011.

14) Complexo cult’ural do Bumba-meu-boi do Maranhão, 28/82011.

15) Conjuntos históricos e paisagísticos de Oeiras, município de Oeiras, e de Piracuruca, município de Piracuruca, ambos no Estado do Piauí, 25/1/2012.

16) Conjunto da Estação Ferroviária de Teresina, 24/3/2012.

17) Festa do Divino Espírito Santo de Paraty, Rio de Janeiro, 2/4/2013.


           Em 2007, Phelipe assumiu a direção do Estaleiro-Escola do Maranhão, instalado no sítio do Tamancão, à margem esquerda do rio Bacanga, após a restauração das ruínas de antiga fábrica de arroz do século XVIII. A instituição foi erguida sobre os alicerces de pesquisa realizada por ele desde o ano de 1977, a respeito das embarcações artesanais do litoral bem como das águas interiores do Maranhão. Com o levantamento, foi possível fazer a tipologia delas em bases científicas e o inventário sistemático das práticas de construção naval usadas pelos pescadores maranhenses. O Estaleiro-Escola, na função de servir à preservação das técnicas de carpintaria naval e transmiti-las às novas gerações, por meio de cursos cuidadosamente estruturados, é exemplo único no Brasil. Foi possível também fazer o belíssimo livro, Embarcações do Maranhão, publicado em 1998 por Phelipe. A publicação lhe trouxe o Prêmio Rodrigo de Mello Franco, de melhor trabalho daquele ano, na categoria Inventário de Acervos e Pesquisas. Concedido pelo iphan, tem caráter nacional.
          Ainda a respeito do livro, o internacionalmente conhecido navegador Amyr Klink afirmou:

          Tamanha é a importância do trabalho sobre as embarcações do Maranhão para a nossa cultura e tal a urgência e oportunidade de sua publicação, que não cabe a seu autor apenas o elogio e o agradecimento. Cabe-lhe a missão de não descansar, de estender esse estudo a todas as regiões brasileiras, de navegar cada centímetro do Brasil costa e interior e fazer destas preciosas páginas a semente de um contínuo descobrimento.

           Para aquilatar-se a importância dessa experiência – a preservação relativa ao mar, esta, porque a outra, a do centro histórico, já está muito bem avaliada – vejam isto. A revista francesa Chasse Marée, uma das mais prestigiosas do mundo na área de embarcações artesanais, publicou editorial no seu número de março deste ano de 2013, que começa com palavras de Phelipe (traduzo, apesar de meu francês claudicante): 

          "Caros amigos da Chasse Marée, eis o primeiro barco de madeira reconhecido como patrimônio cultural no Brasil”. A estas palavras, Luiz Phelipe Andrès, diretor do Estaleiro-Escola de carpintaria naval, do Maranhão, juntou um desenho em cores de sua autoria, do barco Dinamar, canoa costeira da baía de São Marcos. [lembremos que Phelipe foi, como mencionei acima, o relator do processo de tombamento dessa canoa]. [...] Trinta anos depois da França reconhecer seu primeiro barco, que boa notícia ver outros países tomarem, por sua vez, essa direção, para bem defender o seu legado! A consciência de um patrimônio marítimo continua a crescer no Brasil, trinta anos, novamente, depois desse mesmo Luiz Phelipe Andrès lançar sua pesquisa.

          Outros reconhecimentos houve. Cito alguns: Medalha do Mérito Tamandaré, da Marinha do Brasil, 2007; Comenda da Ordem do Mérito Cultural, do Ministério da Cultura, 2006; Medalha Amigo da Marinha, Comando do 4º Distrito Naval, 1996.
          Já me encaminho para o final. Mas, não sem antes falar, senhor presidente, senhoras e senhores, de outra contribuição inestimável de Phelipe ao Maranhão. Desde 1978, quando da criação do Programa de Preservação e Revitalização do Centro Histórico, os técnicos envolvidos em sua implementação vinham tentando encontrar os Livros da Câmara de São Luís correspondentes aos períodos colonial e imperial. O sociólogo baiano Álvaro Raimundo de Jesus Menezes, na época em São Luís a fim de orientar algumas pesquisas, obtivera, um dia antes de retornar, algumas indicações sobre a possível localização daquele material. Viajou a seguir para Salvador, deixando a informação com Phelipe. Seria num prédio à rua da Paz, no 588, alugado à Secretaria de Administração, de São Luís, mas prestes a ser devolvido a seu proprietário. Lá, um antigo funcionário afirmou desconhecer a existência dos livros, mas mesmo assim, levou Phelipe a todas as salas. Nada encontraram. À saída, ele se lembrou de uns restos de livros velhos, a serem incinerados, depositados num cubículo lá atrás. Eureka, eram eles, cobertos de mofo e poeira, no chão e encostados a uma parede por onde certamente sofriam com as grandes águas das chuvas de São Luís, que entravam pelo telhado sem forro e cheio de goteiras. O volume no topo da pilha, indicava o ano de 1646. Imaginem, século XVII, apenas 34 anos após a fundação de São Luís. Estavam a ponto de serem destruídos 166 livros da Cãmara de São Luís dos séculos XVII, XVIII e XIX. Gonçalves Dias, comissionado pelo imperador d. Pedro II a localizar nos arquivos provinciais documentos de interesse para a história do Brasil em relatório de 1855 sobre sua missão, relata as condições em que os achara, sem nenhuma conservação, esses mesmos livros localizados por Phelipe. Atualmente eles se encontram no Arquivo Público Estadual. Avaliem os senhores mesmos a importância desse episódio para o estudo de nossas história.
          A entrada de Phelipe nesta Casa é a reafirmação da tradição de desejarmos entre nós não somente literatos mas, tanto quanto estes, homens de cultura, pessoas com contribuições substanciais ao engrandecimento cultural de sua terra, seja a de nascimento, seja a de adoção. Como acabamos de ver, essa foi sua labuta, sua luta, muda muitas vezes, silenciosa, desde o momento em que primeiro pôs os pés nesta terra, de onde não mais os tiraria, por todos estes anos.
          Lembremos da presença de dois não maranhenses entre nossos fundadores: Clodoaldo de Freitas, piauiense, também fundador da Academia Piauiense de Letras, e Fran Paxeco, português e cônsul de Portugal no Maranhão. Lembremos também de José Chagas, símbolo da acolhida pelo Maranhão aos que vêm de outros Estados para tornaram-se legítimos e incontestáveis maranhenses. Lembremos de Antônio Almeida, certamente um dos maiores artistas plásticos do Maranhão em todos os tempos, um não literato.
           É recorrente perguntarem se determinado candidato a fazer parte da Academia tem livros publicados. A pergunta pressupõe ser o “de Letras” do nome da Casa, que, aliás, foi fundada com o nome de Academia Maranhense, sem mais nada, à semelhança do nome de seu modelo, a Academia Francesa, se refere apenas à Literatura. Equívoco, esse “de Letras” deve ser entendido, como tradicional e universalmente tem sido feito, em sentido amplo, de referência a todo o vasto mundo da cultura. Nos países de língua inglesa, usa-se a designação, para dar um exemplo, de Faculdade de Artes e Letras nesse sentido abrangente.
          No caso de Phelipe, vimos antes que tem livros publicados. Além dos já citados, publicou diversos textos, como os artigos Embarcações do Maranhão – Resgate das Técnicas Populares, no Boletim Comunicações em História das Ciências e da Tecnologia, da Unicamp, em 1988; A Arquitetura Maranhense e a Economia do Algodão, capítulo do livro Arquitetura na formação do Brasil, publicado pela UNESCO, 2006; Embarcações do Maranhão, na Revista Velejar e Meio Ambiente, em 2007. ANDRES, L. P. C. C.1988 O mundo da literatura não lhe é estranho, ainda, porque sua mãe, dona Cordélia, era escritora e membro da Academia de Letras de Juiz de Fora.
           Faço pequeno parêntesis já que falei de sua mãe. Seu pai, respeitado médico em Juiz de Fora, foi provedor da Santa Casa de Misericórdia na cidade. Maria Eugênia, esposa de Phelipe, é filha do médico José Murad, durante muitos anos provedor da nossa Santa Casa. Acasos da vida para mostrar que ela mesma nada mais é do que um acaso, caro a nosso desejo de imortalidade, mas ainda assim, acaso.
          Mas, não foi por ter publicado livros, ou principalmente por isso, a razão de estar aqui. Foi, antes, o extraordinário trabalho em favor da preservação da cultura maranhense, a dedicação praticamente exclusiva a essa nobre tarefa, sem badalações, sem vantagens pessoais de nenhum tipo, em meio a imensas dificuldades de toda ordem, materiais assim como comportamentais e de mentalidade de província, sempre recusando-se a trombetear seu prestígio nacional, sustentando-se nos cargos por que passou exclusivamente pela competência e dedicação.
           Não falei do mais alto deles, o de Secretário de Estado da Cultura, porque esse não foi o mais importante para ele e para o Estado. Os mais importantes foram aqueles que lhe permitiram realizar, na frente de batalha, e não nas salas com ar condicionado do estado-maior, sua batalha pelo Maranhão. Eu insisto, não deixem de consultar o livro Reabilitação do centro histórico, patrimônio da humanidade, Maranhão Brasil. Sua leitura dará a todos ampla perspectiva do muito realizado pela acervo arquitetônico de São Luís.
          Mas, o falar de embarcações do Maranhão traz-me à mente crônica de 19 de agosto de 2001, que publiquei no jornal O Estado do Maranhão. Nela eu comparava Phelipe ao experiente homem do mar que durante o nevoeiro leva o barco devagar. Eu me inspirara, claro, na letra de uma canção de Paulinho da Viola. Phelipe é isso, a cautela, a capacidade de administração de conflitos, a ausência de sentimentos negativos, apesar das muitas problemas encontradas em seu campo profissional, a paciente superação de dificuldades, todo o tempo pensando que o importante é chegar ao fim, não importando as pedras do caminho.
          Maria Eugênia Barros Murad; Luiz Francisco Duboc Andrès, Christiana Murad Andrès, filhos; Ana Cristina, Luiz Alberto, Luiz Otávio e Luiz Camilo, irmãos, todos aqui presentes, vocês podem se orgulhar da obra de Phelipe. Tenham certeza de que a capacidade de trabalhar, a disposição de ajudar, o desejo de cooperar e a aptidão para bem conviver, qualidades postas a serviço de São Luís e do Maranhão, também serão oferecidas à Academia Maranhense de Letras. Esta é seu ponto de chegada. Ele traz um nome, não vem fazê-lo. Com ele, engrandecerá mais ainda esta instituição.
Bem-vindo, senhor acadêmico, tome seu assento.

Obrigado.


Lino Raposo Moreira
Cadeira 8

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