De novo, Cuba
Jornal O Estado do Maranhão
Meu caro imortal Lino Moreira,
Permita-me, como seu amigo e assíduo leitor, um
pequeno reparo histórico ao seu artigo de hoje. Em primeiro de janeiro de 1959,
após o estouro das garrafas de champagne, Fulgencio Batista abandona com a
família e Ministros de Estado, discretamente, os iluminados salões do
Palácio Presidencial onde se realizava o tradicional réveillon e
dirigem-se ao aeroporto de Rancho Boyeros onde 2 ou 3 quadrimotores Bristoll
Britania, da Cubana de Aviación, com joias e alguns milhões de dólares, os
aguardavam para conduzi-los rumo a Santo Domingo. Os outros dirigentes seguiram
para Miami ou asilaram-se em embaixadas. Havana ficou sem governo. O dirigente
estudantil Rolando Cubela, chefe do DR (Diretório Revolucionário constituído de
estudantes, estes, sim, os verdadeiros heróis, pois eram os responsáveis pela
guerrilha urbana e eram presos e torturados pela temida polícia de Batista,
enquanto a turma do Movimento 26 de Julho ficava nas montanhas, fazendo
emboscadas nas estradas), ocupou o Palácio Presidencial e a Vila Militar (Campo
Columbia) sem um tiro. Somente no terceiro dia, Che Guevara entra em Havana e
recebe das mãos dos estudantes do DR a Vila Militar. Fidel, no dia 2 de janeiro,
proclamara em Santiago de Cuba a vitória da Revolução e somente no dia 8 entra
em Havana e encontra a cidade ocupada pelo Cubelas em nome do DR e pelo Che em
nome do Movimento 26 de Julho.
Foi na Embaixada do Brasil, onde havia ido visitar
as duas irmãs, que lá viveram asiladas por muitos meses, e agradecer o apoio do
Brasil, na pessoa, principalmente dos Leitão da Cunha, é que Fidel, externando o
seu mal estar com a dupla situação militar, ouviu da Embaixatriz e do
Embaixador o conselho de que aquela garotada não iria causar problema algum,
desde que desse uma patente de comandante para o principal dirigente e patentes
menores, de major e capitão, para os outros. Assim, então, surgiu o novo
exército revolucionário, com a absorção dos dois movimentos.
Forte abraço, Eduardo
Aí está mensagem do meu amigo
Eduardo Lago, sobre engano em minha última crônica, de 24 de fevereiro. Eu
disse que Fidel havia entrado em Havana em 1º de janeiro. Errado. Como ele
esclarece, foi no dia 8, quando os membros do DR, já haviam – esses, sim, no 1º
dia do ano –, controlado a cidade.
Poucas
pessoas estarão tão bem qualificadas quanto ele para falar sobre a Revolução
Cubana e corrigir escorregões como o meu.
Ele trabalhou em Havana como funcionário do Itamarati. O jovem de então, muito
antes de se tornar o empresário de sucesso que fabricaria Coca-Cola aqui,
chegou à cidade no início de março de 1959, somente dois meses após a queda de
Batista. Foi testemunha de primeira mão de acontecimentos históricos daquele
conturbado período e estabeleceu vasta rede de amigos no novo governo e fora e
conexões as mais diversas que lhe permitiram estar a par dos fatos políticos
mais relevantes de então na ilha. Depois trabalharia em Moscou. (Um comunista disfarçado?).
Além disso, ele tem de uma memória como raramente tenho visto, podendo dele
dizer-se, permitam-me o chavão, que tem memória de elefante.
E foi justo
a memória, a minha, a autora da traição. A criança de dez anos que eu era na
época via nas páginas da revista O
Cruzeiro as fotos da figura onipresente e impositiva de Fidel e dos demais
revolucionários e ouvia falar da fuga de Batista no dia 1º. Na minha mente, as
imagens dos dois, um chegando e o outro, naquela data, saindo da capital,
ficaram juntas no mesmo 1º de janeiro. Minha certeza era tal que não consultei sequer
o Dr, Google ou o próprio Eduardo.
Fizemos
parte do Secretariado do governo Cafeteira em 1987, ele como chefe da Casa
Civil e eu, por algum tempo, como Secretário de Planejamento do Estado.
Tínhamos como companheiro na pasta da Saúde o dr. Jackson Lago, mais tarde governador
do Estado.
Certa vez,
perdidos em Los Angeles, fomos sem querer parar na porta da Dysneylândia.
Decidimos que os compromissos oficiais podiam esperar e entramos, apenas para
ver as crianças brincando, feitos duas delas.
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