Sua Eminência, o Presidente Emérito
João
Bosco Rabello
Site de O Estado de São Paulo
28.fevereiro.2013 14:59:37
Avaliação
suprapartidária corrente nos meios políticos traduz o lançamento da candidatura
da presidente Dilma Rousseff à reeleição como um movimento tático restrito à
conveniência do ex-presidente Lula de antecipar o debate eleitoral, porém sem
excluí-lo como alternativa em 2014, caso as circunstâncias políticas
determinem.
A leitura
reforça a percepção comum de que Lula mantém as rédeas da estratégia política
do governo, atuando como um presidente paralelo, ou adjunto como provocou
o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Para não desperdiçar a oportunidade
de analogia com Roma, uma espécie de presidente emérito, como sugerem os vaticanólogos
aspirar o ex-papa Bento XVI.
São de Lula
todos os movimentos estratégicos do governo, inclusive o que se refere aos
momentos em que a presidente da República dissimula seu notório fastio para o
exercício da política, submetendo-se ao script do seu criador para se
dedicar à preservação das alianças destinadas a fidelizar sua ampla e
heterogênea base de sustentação.
A cara de
paisagem da presidente diante da decisão pública de Lula de trocar o
vice-presidente Michel Temer pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos
(PSB), com o intuito de evitá-lo como concorrente em 2014, é um sinal ostensivo
da submissão do Planalto ao comando político do ex-presidente.
Da mesma forma,
a negação pela presidente Dilma do reconhecimento dos êxitos do governo
Fernando Henrique, feito no início de seu governo, atende a uma cobrança do PT
que jamais engoliu o elogio ao adversário. O momento eleitoral foi a
oportunidade para Lula impor a “correção” e deixar o dito pelo não dito.
Seria natural a
movimentação do ex-presidente em favor do que chama de projeto de governo
popular que propaga desde sua posse, se desenvolvida dentro dos limites que
configurassem a liderança da atividade partidária. Mas o ex-presidente jamais
se manteve dentro dessa fronteira, fazendo de seu Instituto Lula, uma base de
operações que o mantém na cena como a eminência parda , da qual emana o poder
real.
Foi para
prestigiar o Fórum pelo Progresso Social, promovido pelo Instituto Lula, que a
presidente Dilma adaptou programação oficial em Paris, em dezembro passado,
ocasião em que os ministros que a acompanhavam foram chamados para uma reunião
com o ex-presidente.
Não foi a
única: muitas outras ocorreram ostensivamente, dentro e fora do Instituto, uma
delas com o então ministro da Educação, Fernando Haddad, que Lula fez ministro,
depois prefeito de São Paulo, condição em que Haddad assistiu passivamente o
padrinho político comandar a primeira reunião de seu secretariado.
São muitos os
exemplos, importando observar que não há a mais remota preocupação em sequer
criar pretextos que pudessem justificar partidariamente os encontros. São
reuniões administrativas com objetivo claro de estabelecer diretrizes de
gestão.
Seria o caso de
lembrar a máxima do Conde de La Rochefoucauld, segundo a qual a “hipocrisia é a
homenagem que o vício presta à virtude”, na medida em que o hipócrita a
reconhece ao tentar maquiar suas ações ilegítimas, dando-lhes aparência outra.
Lula não está preocupado com liturgias públicas, induzindo a plateia à
interpretação de que opera ostensivamente para sinalizar quem manda de fato.
Com esse
comportamento, espanta que julgue ilegítimo o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso se manifestar como presidente de honra do PSDB. “Eu acho que ele
deveria ficar quieto”, disse, sem se dar ao trabalho de debater o mérito das
questões levantadas pelo adversário.
É o mesmo viés
autoritário que promove episódios lamentáveis como o das agressões à blogueira
cubana Yoani Sanchez, parcialmente impedida de cumprir sua agenda no Brasil por
manifestantes vinculados ao PT, cujo propósito único era o de inviabilizar sua
programação. É a ação para calar a boca, DNA da doutrina do pensamento único,
que predomina no mundo petista.
Pode se
entender por aí, porque Lula concluiu da leitura do livro de Doris Kearns Goodwin,
sobre a presidência de Abraham Lincoln à época da guerra civil norte-americana,
que tem a mesma estatura do ex-presidente dos Estados Unidos, promotor da luta
contra a escravidão.
“Fiquei
impressionado como a imprensa batia no Lincoln em 1860, igualzinho bate em mim,
porque é uma gente que não gosta de progressista”, disse, comparando-se ao
estadista americano para, em seguida, propor a criação de uma mídia própria,
para fazer circular sua versão de mundo.
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