Hemeroteca Digital Brasileira

Jornal O Estado do Maranhão

          Em agosto deste ano a Biblioteca Digital Brasileira tornou disponível ao público, na internet, a Hemeroteca Nacional Digital. São mais de cinco milhões de páginas digitalizadas, de jornais, revistas, anuários e boletins brasileiros, inclusive do Maranhão. Tais periódicos estarão ao alcance de quem dispuser de conexão com a Grande Rede. O serviço proporcionará vantagens inimagináveis até pouco tempo, relativamente a pesquisas no acervo físico de bibliotecas.
          Ninguém precisará pagar um centavo sequer para obter alguns dos primeiros jornais brasileiros, como o Correio Braziliense, a não ser o custo de imprimi-los em sua própria impressora. Ele precisará apenas possuir habilidades mínimas no manejo de computadores pessoais e alguma familiaridade com a internet. Naturalmente o pesquisador poderá salvar os arquivos digitais dessas publicações e reproduzi-las à vontade.
          Eu imagino as dificuldades até agora postas no caminho de quem sofre de alergia a poeira, em especial a acumulada em livros e papéis antigos. Como sabemos, nossas bibliotecas não possuem recursos capazes de lhes facilitar a guarda adequada de seu estoque de valiosas fontes históricas em papel, nas severas condições de nosso clima quente e úmido. Por causa disso, ocorre o acúmulo de partículas de sujeiras e a proliferação de ácaros tendentes a desencadear crises alérgicas em muitas pessoas. A solução que estas têm adotado, quando necessitam dessas fontes, é contratar pessoas com experiência em garimpar informações em velhos jornais, pagando-os por seu trabalho. Agora elas têm a opção de eliminar despesa dessa natureza.
          Outra vantagem do serviço é permitir o acesso a documentos preciosos na própria residência, sem restrições de horário, no instante mais conveniente ao usuário, que assim evita sair de casa e enfrentar o trânsito caótico das cidades brasileiras. Dessa forma, ele poupa horas de precioso tempo, mais bem aplicado em fazer avançar seu trabalho.
          As consultas podem ser realizadas por título, período, edição, local de publicação e palavra. Vejam bem, não se trata tão só de procurar o conjunto de tal jornal ou tal revista e folheá-los na tela do computador a fim de localizar algo do interesse do consulente; ou identificar num período qualquer referências a tópico de seu interesse; ou pesquisar um tema em certa edição de uma revista ou de um almanaque; ou procurar em jornais de um Estado ou cidade. Trata-se também de fazer uma varredura no acervo digital, na coleção de determinado periódico, de um Estado (suponhamos o Maranhão), por palavra, que no caso de pessoas vem a ser o nome. Enfatizo este último recurso com o fim de mostrar o tempo que ele poupa ao interessado, por este não precisar ler cada página para descobrir se fulano aparece naquele jornal maranhense em certo período. O tempo de localização se torna uma fração do que seria na ausência da opção de procurar por palavra.
          Permito-me aqui citar um exemplo de minha família. Eu desejava havia tempo obter informações mais detalhadas do que as de que eu já dispunha no âmbito familiar sobre meu avô paterno Lino Antônio Moreira, dono de um comércio no início da rua Grande, nas duas primeiras décadas do século passado, quase no ponto onde se inicia a avenida Magalhães de Almeida, então inexistente. Fui à Hemeroteca e eis, ao procurar “Lino Moreira”, o meu achado no Diário de S. Luís de 4 de abril de 1925, sob o título Atenas Carnavalesca: “Já estão sendo ultimados os preparativos para as partidas a fantasia que o veterano dos clubes carnavalescos – Atenas, levará a efeito no sábado da Aleluia e domingo da Ressurreição, em sua luxuosa sede, à rua Afonso Pena, n. 56, residência do sr. capitão Lino Moreira, conceituado comerciante de nossa praça”.
          Aí está. Eu não sabia que o velho Lino, falecido 20 anos antes de meu nascimento, e sobre quem localizei muitas outras referências, era capitão da Guarda Nacional e, portanto, membro da “elite insensível e exploradora do trabalhador”, embora coronel não fosse. O neto é simples soldado raso do ciclismo, da economia e das letras.

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