Bolívia, Mac Donald's e Mensalão


Jornal O Estado do Maranhão

          Circulou recentemente a notícia da expulsão, da Bolívia, da Coca Cola bem como da falência da cadeia de lanchonetes Mac Donald’s. Não me surpreendi com a novidade, pelo histórico boliviano de atitudes um tanto bizarras nas relações com alguns países, entre eles o Brasil.

          Agora, pensei, a Bolívia vai. Como ninguém viu uma coisa tão óbvia antes? Elimine-se a causa – aquelas duas empresas, símbolos dos Estados Unidos decadente, que em breve se esfacelará na crise final do seu sistema socioeconômico – e desaparecerá seu efeito perverso, a pobreza crônica (“estará desaparecendo” ou, melhor ainda, “vai estar desaparecendo”, em castiço gerundistês, a língua falada no Gerundistão).
          Eu imaginei logo o ciclo de crescimento virtuoso do simpático povo vizinho, a abundância, a riqueza, a felicidade do povo com os novos tempos. Meu orgulho patriótico ficou até um pouquinho machucado de ciúme, quando eu imaginei o novo emergente passando o Brasil para trás e dando lições de crescimento com distribuição de renda. Sabem aquela história de crescer e simultaneamente distribuir o bolo? Seria assim. Foi terrível, uma noite inteira sem dormir me roendo de inveja.
          Mas, eis minha salvação de tão terrível angústia pelo site da revista Veja, fonte original da notícia no Brasil. A informação estava errada.
          A história é esta. O ministro de Relações Exteriores, David Choquehuanca, segundo o site, é “célebre pelos discursos amalucados, como um no qual disse que ‘as pedras têm sexo’”. Ele deu uma declaração em que misturou a Coca Cola, o Mac Donald’s, o fim do combalido capitalismo e os mistérios misteriosos do calendário maia. Ora, na pressa em decretar o fim das sociedades baseadas no odiento lucro, não mencionou que o Mac Donald’s saíra do país havia uma década, já prevendo, pode-se supor, o fim do sistema, nem disse que a Coca Cola atua normalmente lá.
          Em outro episódio, o tal ministro fez um discurso na ilha do Sol, na cidade de Copacabana, perto do lago Titicaca, falando acerca de um encontro, a ser ali realizado, de indígenas com autointitulados movimentos sociais a fim de comemorar o fim do ciclo que marca o calendário maia. Informou também: “O dia 21 de dezembro de 2012 tem que ser o fim da Coca-Cola. É o começo do mocochinchi [bebida tradicional]", Nessa data, ocorreria o fim do “o egoísmo, o individualismo e a divisão do país”. Um discurso bem bonito, comovente até.
          Toda essa comunicação quebrada levou a uma interpretação confusa dos fatos, com o resultado de o site da Veja ter noticiado as supostas expulsão e falência.
          Agora adivinhem de onde veio a informação original e imprecisa? Isso mesmo, da Venezuela do companheiro Chávez, no site do canal de televisão Telesur e na Agência Venezuelana de Notícias, ambos controlados pelo governo venezuelano. Diz a Veja: “As reportagens escamoteavam a data e a circunstância do discurso em que Choquehuanca, de fato, mencionou o refrigerante. Além disso, o chanceler nunca citou o McDonald's.” As menções ao Mac Donald’s vieram de outra fonte: o documentário ¿Por qué quebró McDonald's en Bolivia?, do cineasta Fernando Martinez.
          De qualquer modo, a falsa informação pôde espalhar-se como verdadeira e com velocidade na internet porque se ajustava ao perfil do ministro e à história passada de maluquices do atual governo boliviano. Alguém acreditaria numa história dessa se o envolvido fosse o Canadá ou o Chile? Duvido.
          Portanto, a novela serviu a um fim didático: demonstrou a percepção que a comunidade internacional tem da visão e atitudes dos dirigentes da Bolívia.
          Não me surpreendi, como já disse, como não me surpreendi com a atuação dos advogados dos pobres acusados no julgamento do mensalão pelo Supremo, ao provar a inocência de seus clientes. Eu sempre acreditei na inocência deles. Minha surpresa, imensa surpresa foi com a própria acusação de que são vítimas. Como se pode acusar assim essa gente, sem provas? Meus amigos, o mensalão nunca existiu. As massas acabarão se revoltando contra tamanha injustiça contra José Dirceu e seus bons companheiros.

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