Um senhor e uma senhora


Jornal O Estado do Maranhão 

Algo o PT tem de sobra: persistência. Virtude ou defeito? Depende do ponto de vista. Para quem acredita nos valores da democracia sem adjetivos, a insistência do partido em tentar implantar no Brasil o “controle social da mídia” é ameaçadora ou, vamos dizer melhor, é doença da qual, dado o DNA estalinista e bolchevique do PT, não pode haver cura. A esperança de um milagre vem das novas tecnologias de manipulação genética. Mas, quem sabe quando elas poderão ser aplicadas nos companheiros?
Para os crentes no partido como o infalível guia das massas, condutor iluminado dos povos e organizador da sociedade por meio do aparelhamento de sindicatos, empresas estatais, fundos de pensão, mensalões e crimes assemelhados, censurar críticas de gente que é “contra o povo” é virtude democrática. Contudo, quem controlaria os controladores que, como é previsível, seriam escolhidos pelo PT? Quem seria premiado com o cargo de comissário ideológico com a missão de fazer cumprir a tal lei?
Quando muita gente a descartava como perniciosa  – essa ideia cuja formalização foi autorizada por Lula e realizada por Franklin Martins, este em tempos recuados presidente da UNE, entidade hoje apêndice do governo federal, de quem recebe milhões em verbas –, ela voltou ao palco com novo cenário, pretensão a realismo socialista e preocupação com o bem-estar das massas. A desculpa para voltar a um debate superado, além da antiga e surrada sobre como existe no Brasil apenas uma visão dos fatos – a da Globo, ponto de referência desses verdadeiros catões de araque, antigos pregadores da moral e bons costumes e hoje adeptos do contrário da pregação – nasceu da reportagem da revista Veja sobre as atividades clandestinas do “consultor de empresas privadas”, José Dirceu, réu confesso de furto de hóstia quando pré-adolescente. No entanto, ele e o PT classificam as informações da revista como invasão de privacidade e perseguição da imprensa.
Foi essa vocação precoce para a ilicitude, esse despertar indômito para as lutas renhidas da vida, esse exercício premonitório de atividades futuras, esse ato de ousadia iconoclasta com raiz em impulsos incontroláveis que deve ter conduzido o sujeito a ser classificado mais tarde, no caso do mensalão, pelo procurador-geral da República, como mentor intelectual do bando de assaltantes do erário  e, nessa condição, indiciado como quadrilheiro.
A Veja, ao fazer o que qualquer órgão da imprensa independente faz num país democrático, mas não nos casos da Venezuela, Equador, Bolívia e Argentina, países cujos governos estão em guerra com a imprensa, revelou a existência de esconderijo do “consultor” num hotel de Brasília, espécie de governo B da República, onde ele recebia figurões e até um senador da oposição, entre as figuras claramente identificadas em fotos do entra e sai da caverna. É muito poder para alguém sem cargo nenhum no governo. Mas, naturalmente esse pessoal ia ao cafofo do Dirceu conversar sobre os velhos tempos e a morte da bezerra: um ministro de Estado, o presidente de uma das empresas mais poderosas do mundo, a Petrobrás, e, até, o ex-líder dos caras  pintadas da época de Collor, o hoje senador Lindberg Farias, anteriormente acusado pelo Ministério Público de superfaturamento em licitações e de implantação de um mensalinho na Câmara de Nova Iguaçu.
Não há dúvida, esse é um caso especial de alguém especial, o Zé. Poderia se esperar, talvez, o contrário: o consultor à procura do ministro e do presidente da estatal às claras. Mas não foi assim. As montanhas vieram a Maomé. Maomé, no entanto, tem clientes com interesses na área de petróleo, sugerindo conflito de interesses com informações obtidas da estatal do petróleo.
A presidente Dilma deixou claro anteriormente seu desapreço pelo projeto de amordaçamento e o pôs de lado tão logo assumiu a Presidência. Agora, reafirmou sua posição e quer explicações sobre o comportamento de seus subordinados, o presidente da Petrobrás e o ministro, pretendentes a servir a dois senhores ao mesmo tempo, ou a um senhor e uma senhora, nesta ordem.

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