O ano-sousândrade
Jornal O Estado do Maranhão
Joaquim de Sousa Andrade, Sousândrade, morreu em 21 de abril de 1902. Completam-se agora, portanto, cem anos de sua morte, motivo mais do que suficiente e justo para a Academia Maranhense de Letras considerar este 2002, como o fez, o Ano-Sousândrade. A Academia, como parte dos eventos que vem realizando nos últimos meses em homenagem a Sousândrade, realizou uma sessão especial em seu auditório, na última quinta-feira, dia 26, a fim de lançar, junto com a Gerência de Desenvolvimento Humano do Estado e com a de Desenvolvimento Regional de São Luís, o Concurso Ano-Sousândrade e um livro do professor Sebastião Moreira Duarte, acadêmico, ocupante da cadeira no. 1, fundada por Barbosa de Godois.
O concurso destina-se aos alunos da rede pública estadual do ensino médio da Grande São Luís, englobando os municípios de São Luís, São José de Ribamar, Raposa e Paço do Lumiar. O melhor trabalho de cada unidade de ensino, e, no geral, os dez melhores, que poderão abordar qualquer aspecto da vida ou da obra de Sousândrade, farão parte de uma coletânea a ser editada pela Academia. Dessa publicação, constará uma síntese bibliográfica do poeta. Será uma oportunidade de os estudantes poderem mostrar seus talentos e, simultaneamente, estrear em livro e não em jornal, este o caminho mais comum das estréias literárias. Eles poderão entregar seus trabalhos à Comissão Organizadora de suas escolas até o dia 24 de outubro, devendo o resultado ser divulgado pela Academia até o dia 17 de novembro deste ano.
O livro do professor Duarte, que poderá servir de valioso subsídio para os participantes do concurso, tem como título A épica e a época de Sousândrade. Ele incluiu dois estudos nesse trabalho. Intitulou o primeiro “O Guesa: Reaproximação ao Problema da Épica”. O segundo foi denominado “Sousândrade e a Epopéia do Segundo Reinado”. Como bem assinalado por Jomar Moraes, presidente da Academia, na orelha do livro, o professor tem uma valiosa contribuição a oferecer aos estudos sousandradinos. Afinal de contas, sua tese de doutorado em literatura latino-americana, apresentada à Universidade de Illinois, em Urbana-Champaign, nos Estados Unidos, tratava exatamente da obra do poeta maranhense, tendo como título O Guesa de Sousândrade e o Canto General de Pablo Neruda. O segundo estudo foi extraído dessa tese. O primeiro já havia sido publicado em O périplo e o porto, obra do professor publicada em 1992, pela Editora da Universidade Federal do Maranhão – Edufma.
A fortuna crítica de Sousândrade foi, durante muito tempo, quase inexistente. Durante pouco mais de sessenta anos depois de sua morte, o poeta descansou obscuro, de uma atribulada vida. Havia silêncio acerca de sua obra, ou avaliações dando-o como menor e confuso. Em 1964, porém, os irmãos Campos, Augusto e Haroldo, publicaram uma monumental antologia crítica de sua poesia, a Re Visão de Sousândrade, que, em terceira edição, saiu neste ano, pela editora Perspectiva. Esse trabalho foi considerado definitivo por muitos especialistas em literatura. Graças a ele, o poeta pôde ser reavaliado e considerado em sua correta dimensão. Não se pode esquecer, no entanto, que a redescoberta deve-se em parte, também, mas não na mesma dimensão dos irmãos Campos, a Fausto Cunha, em artigo pioneiro de 1954.
Tendo iniciado sua produção como um poeta romântico, ainda que com dicção muito própria, com Harpas Selvagens, em 1857, Sousândrade passou a ser reconhecido como um precursor do modernismo e antecipador de formas que somente mais tarde viriam a ser usadas pelos modernistas. Sua principal obra é O Guesa, publicado em livro, em Nova York, em 1888.
Em 1890, foi presidente da Intendência Municipal de São Luís e professor de grego no Liceu Maranhense. Idealizou a bandeira do Maranhão e foi presidente da comissão de preparação do projeto da constituição republicana do Estado.
Justas são as homenagens ao grande poeta e homem de ação maranhense, no centenário de sua morte.
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