Elba abduzida

Jornal O Estado do Maranhão 
Abduzida, abdução? Sim, abdução. Parece estranha, a palavra, incomum. No entanto, ela existe. É de origem latina, abductione, segundo os dicionários. Seus sentidos são vários. Um deles, usado no curioso jargão jurídico, é de “rapto com violência, fraude ou sedução”. E daí? Daí que Elba Ramalho foi abduzida, provavelmente pelo uso de sedução. Por quem? Por ETs, ela afirma à revista Veja.
O caso é que, na 11a. Conferência Internacional de Ufologia, em Curitiba, ela disse que esses seres implantaram nela um chip que só pôde ser retirado com a ajuda de outros seres, celestiais, “ultra, supra, luminosos”. O local do implante, no corpo da cantora, não foi especificado. No cérebro? Elba teve mais sorte do que as outras quase cinco mil vítimas que tiveram de recorrer a duas videntes do interior de São Paulo para extração de chips. O dela saiu durante o sono, sem necessidade de cirurgias mediúnicas.
O que desejam, afinal, os ETs? Os do bem querem, naturalmente, o bem dos terráqueos que, de tão atrasados tecnologicamente, dependem de extraterrestres para uma coisa aparentemente tão simples como a retirada dessa, digamos, eletrônica embarcada. Mas os do mal, meus amigos! O primeiro estudo que fazem é o da genética terráquea. Conhecendo bem nossa natureza, nossos instintos mais primitivos, fica fácil a dominação de nosso planeta. A cantora afirma que existe um pacto secreto com vários países para a implantação dos chips. “Políticos brasileiros colaboram com esse governo oculto”.
Não estaria aí a explicação para a confusão em que políticos experientes e espertos como Antônio Carlos Magalhães e Jáder Barbalho, bem como o menos experiente, porém igualmente esperto, Arruda, se meteram? Não seria algo premeditado, uma conspiração? Não poderia tudo isso fazer parte de um plano alienígena para destruir as instituições políticas brasileiras?
A verdadeira história seria esta. Antônio Carlos, Arruda e Regina Borges, todos dominados pelos ETs, combinaram violar a votação que cassou o mandato do ex-senador Luís Estêvão e divulgar seu resultado que deveria permanecer secreto. O senador baiano vazou, de propósito, para os procuradores federais, que também têm ETs infiltrados entre eles, a informação de que uma lista existia, mostrando o voto de cada senador. A informação foi divulgada pela imprensa, levando a seu exame pela Comissão de Ética do Senado. Esta chamou os envolvidos, para depor.
O assunto, como se sabe, provocou a indignação da opinião pública, que se manifestou favorável à cassação dos senadores. Como parte do plano, porém, um outro pacto, também secreto, entre os partidos, foi firmado no Senado para impedir a punição dos envolvidos. Para que não sofresse a injustiça de ser penalizado sozinho, sem o consolo de uma companhia ilustre, Jader Barbalho, tido como fraudador da Sudam, também seria poupado. Resultado: descrédito e desmoralização do Senado.
Ora, como esperar, nesse ambiente, que as autoridades terráqueas – a ONU, os Estados Unidos? – ou, pelo menos, as brasileiras, todas chipadas, dêem “um depoimento lúcido sobre a presença de ETs”, como diz Elba? Pedir isso é também abdução, em outro sentido da palavra, o de “raciocínio cuja conclusão é imperfeita e, portanto, apenas plausível”. Pedido plausível, sim, merecedor de aplausos pela boa intenção. Mas impossível de ser atendido.
Resta-nos, por fim, uma esperança que também vem do espaço. É sabido que saturnino é o que nasce sob a influência de Saturno, o planeta dos anéis. O relator da Comissão é Saturnino. Logo, podemos supor com segurança que ele está fora do controle dos ETs de Elba. Assim, seu parecer bem que poderá ser a favor da cassação, atrapalhando o plano alienígena.
Se, por fim, houver resistência das forças do mal, o senador saberá manobrar para que, mesmo que se percam os anéis do planeta, fiquem os dedos dos senadores, para decidir em votação manual, sem segredos, sobre o destino daqueles acusados e acuados terráqueos.

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