Vamos estudar
Jornal O Estado do Maranhão
A educação, como tema de campanha nas atuais eleições, não tem sido objeto de sérias, consistentes e necessárias discussões. A história nos mostra não haver sociedades modernas que tenham alcançado o desenvolvimento, em todas as dimensões implícitas nessa palavra, sem um sistema educacional capaz de dar a seus cidadãos condições não só de apresentarem respostas adequadas às necessidades da economia no mercado de trabalho como de proporcionar-lhes o desfrute de condições materiais que lhes permitam a busca da felicidade e o exercício do direito à vida e à liberdade, livres do medo e da opressão. A Coreia é um exemplo de país que em pouco mais de uma geração transitou da pobreza à riqueza por conta, principalmente, de uma revolução educacional. Falo da Coreia capitalista e democrática, não da outra, sob ditadura comunista.
Vejo na imprensa o ranking das melhores universidades do mundo. Entre as dez melhores, sete são dos Estados Unidos e entre as vinte, quinze também o são. Entre as duzentas melhores, o país tem as 72 mais bem colocadas, ou mais de um terço, entre elas a de Notre Dame, onde estudei economia em fins dos anos 70 e início dos 80. Ela aparece na 36ª posição entre as americanas, digo com satisfação e orgulho.
A primeira colocada, Harvard, foi fundada em 1636. Seis dos nove membros que compõem a atual Corte Suprema se formaram lá, na Escola de Direito, bem como seis presidentes, entre eles John Kennedy e Barak Obama. Seus pesquisadores ganharam 43 Prêmios Nobel em quase todas as áreas de conhecimento. As segunda, terceira, quarta e quinta no ranking são também dos Estados Unidos: Instituto da Califórnia de Tecnologia (a Caltech), onde se encontra o Laboratório de Propulsão a Jato, da Nasa; o Instituto de Massachussets de Tecnologia (o MIT); Stanford, também na Califórnia; e Princeton. Não por acaso, o país é o que é.
A Inglaterra vem a seguir, com 29, a Alemanha, 14, a pequena, em extensão territorial, Holanda, 10, o Canadá, 9, a Austrália, 7, China, Suíça e Suécia, 6, Escócia e Japão, 5, Coreia do Sul, Hong Kong, França e Taiwan, 4, completando o grupo dos 15 primeiros.
A dominância dos Estados Unidos é avassaladora. A diferença entre eles e a Inglaterra, segunda colocada, é de 43 universidades, número maior em quase duas vezes o próprio número de instituições dos ingleses. Todos os continentes têm pelo menos uma entre as duzentas melhores, exceto o continente americano do México até a Argentina. O país mais bem classificado nessa América excluída da boa educação universitária foi o Brasil, com a USP, situada tão somente na 232ª colocação. A África tem uma no G-200, na África do Sul. Aqui...
Qual a explicação para tão pífio desempenho? Os americanos investem 3,1% do seu PIB no ensino superior, a maioria em universidades privadas. A União Europeia, na média de seus membros, chega a 1,5%, menos, como se vê. Daí, a diferença a seu desfavor. No Brasil o investimento é ainda mais baixo, 0,9% do PIB. Contudo, só dinheiro não resolve, quando a corrupção é endêmica.
O ensino brasileiro se expandiu muito nas últimas décadas, mas sua qualidade caiu muito. Os alunos saem da escola sem saber ler, escrever e fazer as operações aritméticas básicas e entram nas universidades sem condições de aprender nada, na hipóteses de lá ensinar-se alguma coisa de verdade. As públicas se partidarizaram, transformaram-se em repartições públicas, burocratizaram-se e vivem perdidas em eternas assembleias, greves, reuniões de conselhos. Estes compõem numerosas instâncias decisórias que as paralisam. Na raiz de alguns desses males, está o maléfico sistema de escolha dos reitores, em eleições diretas. Sem ter a capacidade de fazer milagres, como Paulo Coelho, eles se transformaram em tristes rainhas da Inglaterra, sem a pompa britânica.
Sem educação de excelência, o eventual crescimento de nossa economia cedo atingirá o limite imposto pela ignorância e seu propagadores, hoje pré-requisito para o sucesso na vida. Assim, a classe operária não chegará ao paraíso nem a lugar nenhum.
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