Sigilo Quebrado
Jornal O Estado do Maranhão
No capitalismo, que nunca estaciona, mas, ao contrário, evolui constantemente, como afirmou repetidamente Karl Marx, existe um fenômeno chamado por Joseph Shumpeter de “destruição criativa”. Alguns setores e atividades da economia, e os empregos a eles vinculados, são periodicamente destruídos, porém recriados, com outras características, em novas áreas, de tal forma que, no balanço final, a destruição é compensada, mais ou menos na mesma proporção, pela criação. Essa dinâmica, segundo a visão shumpeteriana, surge das inovações tecnológicas introduzidas no sistema econômico, com apoio em estruturas de crédito, por firmas inovadoras, capazes, dessa maneira, de se apropriar, durante algum tempo, de lucros extraordinários.
Evidentemente, não é consolo para os trabalhadores demitidos a existência de oportunidades de conseguir novos empregos. De qualquer modo, as chances não estarão ao alcance deles porque, de fato, eles só poderiam obter trabalho outra vez a um custo muito alto de retreinamento, ou, talvez, não sejam mesmo “treináveis” para o novo ambiente econômico e jamais venham a incorporar os novos padrões exigidos da mão-de-obra. Todas as habilidades desses trabalhadores, já nel mezzo del cammin de suas vidas, estão adaptadas às tecnologias antigas. Assim, o drama humano representado pelo espectro do desemprego inevitavelmente assombra as economias capitalistas.
Mas, os problemas acabaram. Daqui por diante, o capitalismo, selvagem ou civilizado, não mais enfrentará crises periódicas. Agora, está ao alcance de qualquer um compensar a falta de renda advinda dessa situação, com a produção de hortifrutigrangeiros, que se pode chamar legitimamente de verduras ou, mais legitimamente ainda, de verdinhas.
Não será difícil ver porque o ramo é tão promissor. Basta uma análise, ainda que superficial, dos lucros formidáveis obtidos por um assessor de parcos recursos, de um deputado estadual do PT do Ceará, este, por coincidência, irmão do ex-presidente do PT nacional, José Genoíno. O sujeito foi preso com R$ 200 mil numa estufada mala e mais US$ 100 mil na cueca. Preso, disse toda a verdade, embora correndo o risco de atrair concorrentes para seu negócio: “O dinheiro vem da venda de produtos na CEASA”, local onde se vendem, ou pelo menos se vendiam, frutas e hortaliças. Sobre a origem da cueca, que segundo as autoridades não tinha marcas de batom, preferiu usar o direito de calar-se para sempre.
Ora, se alguém obtém uma receita de R$ 437 mil – vamos supor não ser essa a receita de uma semana, mas de um mês – com a venda de verdinhas, um negócio de custos relativamente baixos, sem demanda de conhecimentos tão especializados que não possam ser rapidamente aprendidos, a não ser o difícil reconhecimento de cores – esta verdura deve ser verde, aquela deve ser também, etc. –, então, eis o caminho para os desempregados deste país. Nunca mais Lula precisará se preocupar em criar os dez milhões de empregos prometidos na campanha presidencial e a palavra demissão perde, instantaneamente, o tom de condenação à perda eterna de renda. Basta o desempregado se dedicar ao ramo das verdinhas a fim de alcançar uma situação econômica bem melhor do que a anterior, quando ainda estava empregado.
Porém, como tudo no mundo é incerto, sempre haverá a possibilidade de o negócio dar com os burros n’água, esvaziando as burras do novo produtor que voltaria à condição de reles sem-emprego. Aí, ele poderia mudar de setor, dedicando-se à produção de malas à prova de raios X, cuja procura está em alta hoje e por muito mais tempo no futuro. Todavia, se ele decidir fabricar cuecas, daquelas próprias para o acondicionamento de verdinhas, que têm forte procura também, as CPIs vão ter de quebrar o sigilo de todas elas.
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