Pelo telefone

           
Jornal O Estado do Maranhão

            Hoje tento evitar temas políticos, sempre contaminados por paixões do momento, e corro os olhos pelos segundos e terceiros cadernos da grande imprensa em busca de um bom tema. Até a página policial – ou principalmente ela – poderia me servir em dias como este, de falta da chamada inspiração, que seria mais bem denominada como falta de disposição para escrever.
É no caderno Cotidiano, da Folha de S. Paulo, que tomo conhecimento de uma situação, descrita em crônica de Danusa Leão. Em muitos aspectos é semelhante a mais de uma vivida por mim. E daí, por associação de ideias, lembrei de minha recente entrevista à tv Mirante. Nos dois casos – a da crônica e da minha entrevista – o assunto é o mesmo: os péssimos serviços das companhias de telefonia no Brasil.
A cronista narra suas atribulações com estas, no caso a Oi, a respeito de uma linha de celular sobre a qual Danusa não tem responsabilidade alguma pela prosaica razão de não ser sua proprietária nem nunca ter sido. E, no entanto, recebeu e recebe correspondências ameaçadoras da empresa alertando-a da iminência de ter o nome colocado numa dessas listas de maus pagadores que, muitas vezes, refletem apenas o comportamento de maus vendedores. Oitocentos reias “apenas”, era o valor da cobrança indevida, sem direito a discutir o assunto até o indevido pagamento. Feito isso – dinheiro nos cofres da Oi, de onde nunca voltaria ao bolso da consumidora –, a discussão desigual teria início.
Na entrevista à Mirante perguntaram-me sobre minha experiência com esse pessoal. Falei então de quando, a fim de cancelar uma linha, tive de ir a uma loja da Tim, porque falar por telefone com uma empresa de telefone foi e é uma tarefa digna de um Batman. Feito uma reles peteca de praia, fui raqueteado de um atendente a outro, aturando impecáveis gerundismos, sem nunca ter o problema solucionado.
Chegando lá, disseram-me que o gerente, de quem eu queria obter explicações, estava em reunião com o bispo da Patagônia, que não alcançava o Vaticano com o seu celular. Acreditei, mas respeitosamente pedi para ser o primeiro a ser atendido ao final de encontro tão transcendental.
Quando a autoridade finalmente me atendeu, pedi a ele, de joelhos, perdão pelo incômodo e relatei minha situação. O bruto teve a audácia de exigir que eu fizesse o pedido por escrito “por questões de segurança”. Saquei de um ofício previamente preparado e, triunfante, mostrei a ele. Perda de tempo. Ele não queria um documento apenas escrito, como dissera, mas, prestem atenção, queria-o manuscrito. Eu disse manuscrito, quer dizer, escrito a mão, e tentou me empurrar uma folha de papel almaço e uma charmosa caneta Bic. Percebeu, caro leitor? Manuscrito em papel almaço. Nem ao menos em papel do tipo chamex.
Depois de muita discussão, aceitou o requerimento impresso. Em crônica neste jornal, fiz um relato semelhante a este de agora. Poucos dias depois, um diretor da empresa, em outro Estado, ligou-me e prometeu mais investimentos na melhoria dos serviços. Acreditei de novo.
Com a Oi foi menos grave, mas, assim mesmo, indicativo do desprezo dessa gente pelos consumidores. Como a identificação de chamadas de minha linha não funcionava corretamente, solicitei que resolvessem o problema. Deram-me um número quilométrico (era um tal de protocolo de atendimento) e prometeram mandar um técnico a minha casa no dia seguinte. Vinte dias e meia dúzia de novas solicitações depois apareceu alguém e (parece mentira) consertou o defeito. É assim o tratamento dado a nós, consumidores, por essa turma.
Já passou a hora de as autoridades fazerem funcionar para valer os órgãos de regulação e fiscalização na telefonia do Brasil e em tudo mais. Aliás, onde deveria haver tais ações, nenhuma se vê, como neste setor. Em outros, em que fiscalização cheira a mordaça, como o setor dos meios de comunicação, áreas do governo federal se empenham avidamente em controlá-los e colocá-los sob suas ordens, inspirados no modelo de Cuba. Como se sabe, lá é o paraíso da classe trabalhadora na Terra.

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