O Memorial dos 80 anos
Jornal o Estado do Maranhão
Acabo de ler o Memorial dos 80 anos, editado pelo Instituto. Geia O livro é de autoria de Mílson Coutinho, presidente da Academia Maranhense de Letras, onde ocupa a Cadeira 15, patroneada por Odorico Mendes e fundada por Godofredo Viana, governador do Estado entre 1923 e 1926. Em verdade, fiz uma releitura de sua primeira parte, pois esta, revista e atualizada agora, compõe Sarney: apontamentos para a vida e obra do chefe liberal, publicado em 1986.
O presidente da AML, ocupante de Cadeira criada por um político e escritor, escreve sobre outro político e escritor, José Sarney. Este, além de governador, como Godofredo, foi presidente da República e tantas coisas mais que relacioná-las tomaria todo o espaço de minha conversa quinzenal neste jornal. Recomendo aos interessados a leitura da bibliografia de Sarney entre as páginas 344 e 350. Desde já ela se torna a mais completa de quantas já foram elaboradas sobre a obra do decano da AML e da Academia Brasileira de Letras. A listagem tem 141 entradas e está organizada em grandes itens: Poesia, Conto, Romance, Ensaios, Crônicas, Política e Avulsos.
Se a esse apanhado no campo literário, adicionarmos as posições políticas ocupadas por Sarney no período de mais de cinco décadas de vida pública no Maranhão e no Brasil, incluindo-se a de presidente da República, poderemos ter ideia da importância para os destinos da nação brasileira do mais importante político da história do Maranhão.
Milson Coutinho, com sua capacidade de extrair ordem do aparente caos de informações contidas nas fontes documentais com que é feita em grande parte a História e, ainda, historiador com uma produção certamente longa e importante, podendo ser considerado como um dos melhores historiadores de nosso Estado na atualidade, Mílson, eu dizia, vai passo a passo construindo a trajetória de seu biografado – é de uma história de vida de que o livro trata – de tal forma a mostrar como o político e o intelectual convivem sem conflitos instransponíveis. No fim, fica-se com a certeza de que um, o político, olha o outro, o escritor, com admiração e vice-versa, embora não permitam interferências mútuas, ou só o façam minimamente. De fato, nesse tempo todo de vida ativa nas letras e na política, José Sarney nunca permitiu a esta última interromper o exercício da outra. Essa constância é mais evidente agora, quando ele acaba de completar 80 anos de idade, sendo sinal de extraordinária disciplina intelectual bem como daquele suor cotidiano componente indispensável do trabalho das grandes figuras da literatura.
O livro não deseja ser contra nem a favor do biografado, não quer atacá-lo nem defendê-lo. Apresenta fatos e circunstâncias, sem tomar partido, frustrando certo tipo de leitor sempre à espreita, nesse tipo de narrativa, da luta do bem contra o mal, ou da grande batalha dos maus contra os bons, visão sem guarida tanto na política quanto na literatura. Mílson pretende, em vez disso, levar o leitor a tirar suas próprias conclusões. Se a avaliação resultar positiva para Sarney, como tenho certeza de que resulta, isso irá apenas confirmar a avaliação feita anteriormente e por longo tempo pela grande maioria dos maranhenses.
Na segunda parte, o autor deixa falar as pessoas. São depoimentos de diversas personalidades brasileiras e estrangeiras. O conjunto nos dá a dimensão internacional da projeção de Sarney e da qualidade de seus admiradores de todas as orientações político-intelectuais, conquistados pelo mundo afora.
Não é coincidência o lançamento neste mês. Sarney completa no dia 17 de junho, quinta-feira próxima, 58 anos de sua posse em 1952 na Academia Maranhense de Letras, na Cadeira 22, fundada por Ribamar Pinheiro que, como ele, foi presidente da Casa, e patroneada por Humberto de Campos, escritor que exerceu mandatos de deputado federal em duas legislaturas. No dia anterior, 16, a obra será lançada na Biblioteca do Senado com a presença do autor às 19 horas. No dia 18, o evento se repete aqui em São Luís na Fundação da Memória Republicana no mesmo horário.
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