Lucchesi na ABL
Jornal O Estado do Maranhão
Faleceu no dia 6 deste mês, aos 92 anos, em Belo Horizonte, onde no mesmo dia teve o corpo sepultado, o padre Fernando Bastos de Ávila, ocupante durante 13 anos da cadeira de número 15 da Academia Brasileira de Letras, fundada por Olavo Bilac, já ocupada por Odilo Costa Filho e cujo patrono é Gonçalves Dias. Sua posse na Academia deu-se no ano do quadricentenário da morte de José de Anchieta e tricentenário da de Antônio Vieira e seu antecessor foi dom Marcos Barbosa. Segundo dom Dimas Lara Barbosa, bispo auxiliar do Rio de Janeiro e secretário-geral da CNBB, “sua biografia atesta a fidelidade de seu amor a Cristo e à Igreja no exercício de um longo e frutuoso ministério presbiteral”.
O padre, membro da Companhia de Jesus desde 1935, fez em Roma, onde se ordenou em 1948, mestrado em Filosofia e Teologia, na Universidade Gregoriana. Em 1954, doutorou-se em Ciências Políticas e Sociais na Universidade de Louvain, na Bélgica. Criou em 1955 a Escola de Sociologia, Política e Economia, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, de que foi vice-reitor a partir de 1964, quando lutou pelo reconhecimento da profissão de sociólogo. Foi membro da Comissão de preparação do Anteprojeto de Código Penitenciário, publicado em 1957; da Comissão Provisória de Estudos Constitucionais, nomeado pelo presidente Sarney, em 1986; e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Publicou quinze livros bem como numerosos ensaios, artigos e conferências nos campos da sociologia, problemas brasileiros, história e doutrina social da Igreja.
Lamentar a morte do padre Ávila é também lembrar o vazio deixado por ele não apenas nas mentes e corações de seus amigos e admiradores, mas também no quadro de membros da ABL. Os jornais noticiam a candidatura de Marco Lucchesi à cadeira 15. Poeta, escritor, ensaísta e tradutor, ele veio a São Luís em 2008 a meu convite e por indicação do poeta Luís Augusto Cassas, seu amigo, quando eu presidia a Academia Maranhense de Letras. Aqui ajudou a conferir brilho intenso às festividades do Centenário da AML com duas palestras. Uma sobre a obra poética de Cassas e a segunda sobre a Divina Comédia, de Dante. Sua personalidade cativante fez germinar várias amizades entre nós e o tornou uma sentinela especial de nossa cultura no sul do país, onde, nas páginas da revista Poesia Sempre, da Biblioteca Nacional, tem divulgado a poesia maranhense.
Lucchesi nasceu em 1963, no Rio de Janeiro. É professor de literatura italiana, na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Publicou Sphera (2003), Poemas Reunidos (2000, finalista do Prêmio Jabuti), A sombra do amado: poemas de Rûmî (2000, ganhador do Prêmio Jabuti), Os olhos do deserto (2000), Bizâncio (1999, finalista do Jabuti), Teatro alquímico (1999), O sorriso do caos (1998), Saudades do paraíso (1997), A paixão do infinito (1994). Escreve também em italiano (Poesie, 2000) e em árabe. Foi responsável pela edição brasileira de dois clássicos italianos: Jerusalém Libertada, de Torquato Tasso, (1998) e Giacomo Leopardi – poesia e prosa (1996). Tem poemas traduzidos em alemão, romeno, espanhol e persa. Traduziu, entre outros, Primo Levi, Umberto Eco, Vico, Rûmî, Hölderlin, San Juan de la Cruz, Rilke, Quevedo, Khliébnikov, Trakl, Vittorio Alfieri, Roberto Cotroneo e Artaud. “O poeta Marco Lucchesi acaba por despertar em nós outros, seres humildes, a fervente aspiração de alcançarmos um dia esses vértices de luz absoluta, que ele, Marco, traduziu apaixonadamente”, disse de sua obra poética Nise da Silveira.
Falando sobre seu próprio trabalho de tradução diz Lucchesi: “Vivi desde pequeno – sonhando, pensando, brincando – num meio bilíngue, toscano-carioca: a tradução foi para mim como que um processo afetivo. Uma forma de amar. Ou de sobreviver. Anfíbio de duas culturas, era preciso conhecê-las uma na outra. Por isso, tornei-me um espelho de duas tendências”.
É em favor desse homem de grande talento e erudição, e de convívio humano fácil e suave, que pedimos aos deuses que o façam ficar sob o patronato de Gonçalves Dias na ABL.
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