Herança maldita

Jornal O Estado do Maranhão 
Leio nas páginas amarelas da revista Veja entrevista do antropólogo Roberto DaMatta, professor recém-aposentado da Universidade de Notre Dame, em Indiana, Estados Unidos. Eu estudei economia nessa instituição, na área de organização industrial. Mais especificamente, como parte de um projeto financiado pelo Ministério do Trabalho dos Estados Unidos, analisei as implicações para a criação de emprego das tecnologias utilizadas no Brasil pelas empresas multinacionais, comparadas com as nacionais, agrupadas por setores econômicos segundo critérios do IBGE.
Quanto maior uma empresa, mais tecnologias intensivas em capital, que geram pouco emprego em comparação com as intensivas em mão-de-obra, serão utilizadas, independentemente da nacionalidade da empresa. As multinacionais, conforme meu estudo mostra, são maiores em comparação com as brasileiras do mesmo setor e usam tecnologias mais intensivas em capital. Justificam-se, portanto, políticas governamentais, de um lado, de apoio às empresas nacionais e, de outro, de suporte aos setores onde estas constituem a maioria, se o objetivo principal das políticas governamentais é a maximização da criação de empregos, na ausência de mudanças nos outros parâmetros da economia.
Mas, eu queria dizer que na entrevista à Veja, o professor DaMatta destaca o que ele chama com muita propriedade de as duas faces do governo petista. Moderna e liberal, uma, capaz de lidar com eficiência com a economia brasileira, impedindo a transformação em realidade das mais pessimistas previsões de caos econômico para o período posterior à posse do presidente Lula. A outra face é a autoritária, corporativista, estatista, coletivista e, eu diria, estalinista e ditatorial, expressa nas tentativas de controle da liberdade de expressão, como aconteceu há pouco com o projeto de cerceamento das atividades jornalísticas através do malfadado Conselho Federal de Jornalismo.
Há somente três semanas eu dizia aqui: “O governo continua acertando na economia, que mostra sinais de recuperação, ameaçada, no entanto, pela alta do preço do petróleo, e errando no resto”. Qual dos dois lados irá prevalecer no futuro? Vencerá a modernidade ou as forças do atraso, a visão retrógrada do mundo, terão a última palavra, com seu imenso cortejo de pobreza e miséria? Teremos de esperar mais algum tempo a fim de saber.
Aponta com toda razão o professor, do ponto de vista de quem é brasileiro e observa de fora seu país, o surgimento de uma onda positiva em torno do Brasil. As pessoas no exterior se surpreendem ao descobrir que produzimos, por exemplo, aviões e que somos competitivos com nossos produtos agrícolas, como a soja e muitos outros.
É, como se vê, o bom desempenho na economia, possibilitando a melhora de nossa competitividade nos mercados globais, a fonte da transformação positiva de nossa imagem. O interesse por nós aumenta com o aumento das exportações de nossos produtos.
Porém, quantas críticas recebemos da imprensa mundial, de governos estrangeiros e de organizações internacionais, por causa dessa tendência antidemocrática do Partido dos Trabalhadores, representada à perfeição pelo chefe da Casa Civil do governo Lula? Essa triste característica, de cunho político-ideológico, ameaça quebrar a onda em favor do Brasil. Não mereceremos o completo respeito da comunidade internacional enquanto não nos livrarmos dessa herança maldita dos tempos de oposição do PT. Se na época isso era só uma atitude inofensiva, embora lamentável, agora, no governo, é inaceitável.
Mudo de assunto e termino com uma pergunta que anda na cabeça de muita gente. Será o Maranhão o Iraque, pois aqui, como lá, ocorrem decapitações, como fizeram com a estátua de Odorico Mendes?

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