Durma-se com um barulho desses
Jornal O Estado do Maranhão
O pessoal que não gosta de futebol finalmente teve uma boa notícia. Os cientistas, capazes de fazer as mais inesperadas pesquisas, descobriram os malefícios dos pênaltis. Não propriamente com respeito ao time contra o qual eles são cobrados, situação angustiante bem conhecida pelos goleiros e até mesmo pela grã-fina de Nélson Rodrigues ao chegar ao Maracanã nos elevadores da tribuna de honra e perguntar pelo mais novo jogador, a grande revelação da temporada, um tal de Balão de Couro. O caso é muito mais grave. O problema é com a saúde de quem está fora de campo.
Cientistas britânicos da Universidade de Bristol e da Universidade de Birmingham descobriram que a cobrança da chamada “penalidade máxima”, no linguajar dos cronistas esportivos, é de parar o coração, podendo matar os pobres torcedores. A informação foi divulgada no British Medical Journal, uma das mais conceituadas revistas científicas do mundo.
Ao compararem as internações nos hospitais em conseqüência de ataques do coração, automutilações e acidentes de trânsito no dia das partidas da Copa do Mundo de 1998 com os mesmos tipos de admissões em outras ocasiões eles chegaram à seguinte conclusão. No dia do jogo entre Inglaterra e Argentina, 30 de junho, decidido na cobrança de pênaltis, houve um aumento de 25% nas entradas devidas a ataques cardíacos, que chegaram a 55, mas nenhuma alteração nas resultantes de outras causas. Surpreendentemente, houve um acréscimo maior entre as mulheres. Fora da época da Copa, não ocorrem modificações em nenhuma dessas ocorrências.
A sugestão dos cientistas, gente, evidentemente, sem intimidade alguma com o popular “esporte bretão” e com suas emoções, ou as de qualquer outro esporte, foi de que não mais se decidissem as partidas por meio de pênaltis, adotando-se a morte súbita, ou gol de ouro, como forma de desempatar os jogos, pelo bem da saúde pública. Estiveram perto de propor a eliminação do gol, outra fonte de perigosas emoções. Coisa de inglês, com sua famosa fleuma.
A coisa não pára aí, todavia. “A Copa do Mundo dura muito tempo. Se se bebe diariamente, a saúde será afetada”, disse o doutor Ian Banks, do Foro Masculino de Saúde. Ele chama a atenção para o fato de a ingestão de álcool vir quase sempre acompanhada de comidas “insalubres” como pizza, batata frita e salsicha. O ganho de peso, efeito natural da comilança, aumentaria as ameaças ao bem-estar do torcedor.
Naturalmente, este abusa apenas durante o campeonato, quando, ganhando, comemora e, perdendo, afoga as mágoas no álcool. Mas, não no Natal, no Ano Novo, nos fins de semana sem jogo – quando fica chateado por não poder ver seu time predileto em ação –, nos feriadões, no seu aniversário, no da mulher, da sogra e dos filhos e, aqui no Brasil, durante o Carnaval e o São João. A vida é dura, afinal. É preciso ser cuidadoso, embora ao preço de morrer de tédio esbanjando saúde.
Por falar em pizzas e seus males, vejam o que outra pesquisa, feita na Itália, acaba de revelar. Comer habitualmente esses deliciosos discos de massa de trigo é um hábito benéfico, porque reduz em até 59% a probabilidade de aparecimento de câncer de esôfago, em até 26% o de cólon e em até 34% o de boca. O segredo pode ser o licopene uma substância química antioxidante presente no tomate usado nas pizzas, fazendo-nos duvidar da insalubridade delas.
A conclusão é inevitável. Essas investigações sobre os prós e os contras de certos alimentos podem ter um resultado exatamente oposto à intenção de seus patrocinadores, de melhoria na qualidade de vida das pessoas. Alguém preocupado em se manter saudável vai acabar adoecendo de tanto estresse causado pelo vai-e-vem das recomendações. Pode pizza? Não pode carne? Muito ou pouco exercício?
Por isso, não me surpreende esta história. Uma senhora foi a uma academia, olhou um bocado de gente roliça suando e sofrendo pra perder peso e declarou: “Puxa, eu não sabia que malhação engordava. Não demora, aqueles ali vão ficar do mesmo jeito”.
Difícil dormir com um barulho desses!
Comentários