Dois Errados...
Jornal O Estado do Maranhão
Vai se tornando comum nos meios petistas, bem como nos assemelhados e aderentes, o seguinte argumento amoral – nem imoral chega a ser, o que revelaria certa consideração a padrões de moralidade pública, algo fora das cogitações do ex-campo majoritário do ex-PT. Como, dizem, outros partidos usaram e usam caixa dois em campanhas políticas, o PT estaria justificado por ter criado também o seu, com o fim de comprar os votos necessários à aprovação de projetos do governo no Congresso Nacional, com a força do vil metal, materializada no mal afamado mensalão. Este neologismo, por sinal, tão logo foi inventado pelo ex-deputado Roberto Jefferson, se popularizou instantaneamente, revelando entusiasmada receptividade popular às denúncias do então parlamentar acerca do comportamento criminoso do petismo, outrora monopolizador da moral e dos bons costumes da vida pública.
Por conta desse amoralismo nascido em Paris, em entrevista de nosso presidente, quando ele tentou banalizar o uso do caixa dois, apelidado por ele de erro, para não ter de chamá-lo pelo verdadeiro nome, crime, ouvem-se afirmações solenes de dirigentes do PT e de simpatizantes do partido, com ares de filósofos morais de bar de praia ou pose de doutas autoridades em práticas políticas ilegais, sobre o uso pelo PSDB do mesmo expediente por ocasião da votação da emenda da reeleição a cargos do Executivo.
O novo presidente do PT, Ricardo Berzoini, aquele que, de fichas de recadastramento da previdência social em punho, ameaçou a vida de milhares de idosos “deste país”, como diria Lula, usou o argumento há pouco tempo, ao votar no segundo turno da eleição interna do PT. Muito bem. Vamos cassar os mandatos dos que assim agiram, se eles ainda os têm, e mandar para a mesma cadeia onde se encontram Paulo Maluf e seu filho todos os envolvidos no comércio eleitoral dentro do Congresso Nacional, local dos negócios. O certo, no entanto, é isto: dois errados não fazem um certo, se se pode distinguir o certo do errado em política.
Quem sabe os atuais coordenadores políticos do governo sigam o exemplo de José Dirceu. Aliás, a despeito de todo o seu poder no passado, de tudo controlar na administração pública, ele alega que o esquema de corrupção não era de seu conhecimento – como não era de ninguém mais, segundo alegação de todos os acusados, forçando-nos a concluir que foi criado por geração espontânea ou vivemos uma alucinação coletiva –, e muito menos produto de sua reconhecida engenhosidade, capaz de lhe dar a coragem de dizer que empunhou, sem tê-lo feito, armas contra a ditadura militar.
Se tem gente que tem fé em duendes e leva Paulo Coelho a sério, se o povo acredita nas promessas de época de eleição e Elba Ramalho jura ter sido abduzida por extraterrestres que lhe implantaram um chip no corpo, então não é absurdo dar crédito a Dirceu. Claro, os documentos não o incriminam de modo direto. Mas, quem disse que malfeitores passam recibo de suas tramóias e só provas documentais condenam criminosos?
Se o exemplo for tão exemplar, permitam-me dizer dessa forma, os coordenadores comprarão os deputados compráveis, com o objetivo de constituir uma CPI de verdade, do ponto de vista deles. Ela seria diferente e, até, oposta em seus resultados, à criada há algumas semanas pela base aliada de Lula, visando investigar, imaginava-se, a compra de votos para a emenda da reeleição, mas de fato, vê-se agora, feita com a única finalidade de barganhar com a oposição a investigação das próprias compras governamentais de deputados, num jogo de CPI contra CPI, conveniente aos dois lados. Se tal Comissão fosse constituída, os malfeitos do pessoal do PSDB poderiam ser investigados e seus agentes castigados. Mas, será, mesmo, esse o desejo do governo?
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