De Outro Mundo

Jornal O Estado do Maranhão   
Estão vendendo pacotes turísticos para a Lua. Não é ficção; é realidade. Daqui a cem anos, quem sabe, algum pesquisador de jornais antigos se espante de nos admirarmos, hoje, de feito que será banal na época dele, como esse de flutuar serenamente entre os astros. Após levar dois milionários americanos à Estação Espacial Internacional, em 2004, creio, a Space Adventures, empresa dos Estados Unidos, está oferecendo passeios à Lua. Os capitalistas que, como se sabe, são selvagens preocupados apenas em ganhar dinheiro em vez de se dedicarem ao bem-estar dos povos, miram um mercado formado por milionários de toda parte, sempre dispostos a consumir novidades da tecnologia. Portanto, a oferta de aventura poderá ter boa receptividade, pelo menos entre os ricos.
O preço é de US$ 100 milhões. A maioria de nós não é capaz de avaliar com exatidão o poder de compra de uma quantia desse porte. A montanha de dólares não dá direito, por enquanto, a um pouso na Lua. Trata-se, unicamente, de orbitá-la, o que é extraordinário, pois nem todo dia se chega perto de outros mundos, embora deles ouvindo histórias a todo hora nas CPIs.
Eu, se tivesse tanto dinheiro, não perderia a oportunidade. Partiria no primeiro vôo. Aí eu poderia verificar se de fato a Lua é feita de queijo suíço, se é por causa dele que os namorados vivem o tempo todo no mundo da Lua e, também, se lá ratos e ratazanas passeiam à vontade, como na Terra, ameaçando a sobrevivência do nosso planeta e do nosso satélite natural, caso, se confirme a suspeita de ser este feito de queijo.
Mas, a fascinação com a Lua pode ter outra origem bem diferente. Talvez nasça do brilho azul-dourado nas noites em que ela está grávida de luz do Sol, ou, em vez disso, como na famosa canção de Bart Howard, Fly me to the Moon (Leve-me à Lua), venha de se poder, no trajeto até lá, cantar entre as estrelas e, de passagem, ver como é a primavera em Júpiter e Marte. Como eu nunca seria um desses tesoureiros de partido político – por sinal homens dedicados ao ideal de garantir a governabilidade bem como de falar sempre a verdade quando são chamados a depor em alguma comissão de inquérito – como nunca seria tesoureiro, eu dizia, posso tão-somente imaginar o que de útil se poderia obter de passeios desse tipo e quais seriam as regras de segurança a serem obedecidas durante a viagem.
Uma destas seria, a restrição ao transporte de malas, sobretudo se elas contivessem dinheiro originário de empréstimos bancários feitos com a intenção de financiar clandestinamente campanhas políticas na Lua. Outra seria a proibição do uso de cuecas, mas só no caso das utilizadas na embalagem de dólares provenientes da venda de produtos hortigranjeiros, recursos por certo destinados a estabelecer ali o mesmo rentável negócio antes instalado em nosso planeta. Se permitíssemos transferências como essas, deixaríamos, é claro, de criar muitos empregos aqui para criá-los, vamos dizer, no Mar da Tranqüilidade. Eliminaríamos empregos terráqueos e os recriaríamos lunáticos. Não se pode concordar com isso em vista da taxa de desemprego cá embaixo, na Terra, mesmo nas economias mais ricas.
A utilidade das viagens é evidente. O depoente de CPI que mentisse seria obrigado a embarcar. Eu sei que a fila seria imensa, como as de pessoas em busca de emprego, vistas vez por outra na imprensa. Não haveria lugar para todos, mas não importa. Vôos extras seriam realizados de acordo com as necessidades. A maior vantagem, porém, seria outra. As passagens teriam apenas o trecho de ida. O seguinte seria em direção a um vizinho buraco negro que, por não deixar escapar de seu interior nem a luz, depressa os desintegraria. Assim, derretidos e derrotados essas criaturas de outro mundo, deles estaríamos por fim livres.

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