Brasil, Século XX
Jornal O Estado do Maranhão
O IBGE acaba de publicar as Estatísticas do Século XX, um resumo de informações sobre o Brasil nesses cem anos. Com base nos Censos, nas Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios, realizadas a partir de 1967, nos Anuários Estatísticos, publicados de 1938 em diante, e em outras pesquisas, o órgão reuniu informações sobre o país.
Durante o século, o nosso crescimento foi um dos maiores do mundo. Ele alcançou uma taxa média de 4,5% ao ano, inferior apenas à de Taiwan, com 5%, e igual à da Coréia. O Produto Interno Bruto – PIB brasileiro foi multiplicado por um fator de 110! Entre 1900 e 1973, tivemos um crescimento médio anual de 4,9%, o maior do mundo. O nosso PIB per capita aumentou doze vezes, de R$ 516 em 1901, para R$ 6.056 em 2000; a mortalidade infantil, o número de mortes de crianças de até um ano de idade dividido por mil crianças nascidas vivas, que era de 162,4 em 1930, caiu a 29,6 em 2000; a expectativa de vida ao nascer, de meros 33,6 anos em 1900, chegou a 68,6 anos, mais do dobro, no final do século. (O pessoal de antigamente vivia menos e não mais, como afirma o senso comum); a inflação, mal terrível, que atinge com mais força os mais pobres, foi controlada.
A despeito de todos esses números positivos, a persistência da extrema concentração de renda continua a embaraçar e perturbar nossa sociedade. O coeficiente de Gini, medida usada universalmente como indicador de desigualdades na distribuição de renda, aumentou de 0,50 para 0,59 entre 1960 e 1999. (Quanto mais próximo de 1 esse índice, maior a concentração). O Brasil só não tem uma desigualdade maior do que a Namíbia, Botsuana, Serra Leoa, República Centro-Africana e Suazilândia, todos nações africanas muito pobres, com economias pequenas. A renda brasileira cresceu. Tornou-se, porém, mais concentrada. Hoje, o conjunto das pessoas que formam o 1% mais rico da população fica com 13% do PIB do Brasil, enquanto o imenso grupo dos 50% mais pobres fica com apenas 13,9%, uma participação no PIB apenas ligeiramente superior à do reduzido número de ricos.
Há poucos dias, falei aqui sobre meu tempo de estudante no Colégio Maranhense, dos Irmãos Maristas. (Equivocadamente, eu chamei de boletim, o que, de fato, todos chamavam de caderneta. Traições da memória!). Eu dizia que, infelizmente, a massificação do ensino havia levado à perda de sua qualidade. Vejo agora o IBGE confirmar minha avaliação.
Houve um formidável aumento na oportunidade de acesso à educação fundamental e à média e uma enorme queda no analfabetismo. Em 1940, o número de alunos matriculados nesses dois níveis de ensino representava 21% do total das pessoas entre 5 e 19 anos. Em 1998, havia subido para 86%. Na população de 7 a 14 anos, em 2000, 94,5% freqüentavam a escola. A taxa de analfabetismo encolheu de 65,1% em 1900, para 13% em 2000. São taxas ainda relativamente altas, ao se considerar o desempenho de outros países que não tiveram as mesmas taxas de crescimento brasileiras. Mas, é um grande avanço.
Mas, o ensino, especialmente a partir dos anos 70, não se adaptou às novas demandas da massificação e viu sua qualidade desabar rapidamente. Chegou-se a uma democratização do acesso à educação baseada exclusivamente na quantidade. É muita gente aprendendo pouco ou nada. Isso representa um formidável obstáculo à superação de nossas desigualdades e ao desenvolvimento econômico. É preciso ter em conta que não existem exemplos históricos de sociedades que tenham melhorado sua qualidade de vida sem um sistema de educação e pesquisa de boa qualidade, adequado ao atendimento das necessidades de crescimento equilibrado.
Uma nação capaz de crescer às altas taxas, como o Brasil o fez no século XX, saberá enfrentar e superar os desafios restantes. Se já viemos de tão longe em muitas áreas, não há razão para não continuarmos a fazê-lo em outras ainda necessitadas de mudanças. Os números mostram o caminho a ser seguido: desconcentração de renda e boa educação. Iremos percorrê-lo até o fim?
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