Rosa Paxeco na AML
Jornal O Estado do Maranhão, 20/9/2009
A semana finda foi de Fran Paxeco, por assim dizer, para a Academia Maranhense de Letras. Encontrava-se entre nós (em verdade ainda se encontra, pois ela viaja somente hoje com destino a Belém) uma neta desse português-maranhense, fundador da AML com dez outros intelectuais maranhenses e um piauiense, Clodoaldo Freitas. Falo da doutora Maria Rosa Pacheco Machado. Ela é filha de José Pedro Machado, filólogo, historiador e arabista português, autor de vários dicionários e vasta obra em diversos campos do conhecimento, e de Elza Paxeco Machado, primeira mulher a obter o grau de doutora na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. A mãe de Elza era Izabel Paxeco, a esposa de Fran. As duas eram maranhenses. Nasceu, portanto, aqui, a primeira doutora em letras daquela tradicional e bem conceituada universidade portuguesa.
Fran veio morar em São Luís em 1900 a serviço do governo português, na condição de cônsul. Tornou-se maranhense de coração, do que constituem prova as demonstrações de amor a esta terra até sua morte em 1952, depois de longa enfermidade, expresso nas suas obras sobre o Maranhão e em na intensa atividade dele em benefício de nossa terra não apenas na área cultural como também em diversos setores de nossa sociedade. Casou-se aqui e aqui nasceu sua única filha, Elza.
Em São Luís, Rosa foi na maior parte do tempo ciceroneada pelo seminarista João Rezende Filho que a conheceu pela internet, como resultado das pesquisas dela sobre seus antepassados maranhenses. Em conversa na Academia, ela revelou que embora conhecesse a importância de seu avô por informações, em conversas familiares, dadas por sua avó e sua mãe, (por ocasião da morte de seu avô ela era muito pequena) e por leituras de livros de e sobre seu avô, não pôde, até chegar a São Luís, bem avaliar o carinho e a admiração que os maranhenses têm por esse grande homem de letras e de ação.
Muita gente pergunta a razão de o nome de Fran ser escrito com x, a mesma grafia usada depois por Raul Seixas na canção Dr. Paxeco. Sua neta deu a resposta definitiva, com a doação à Academia de cópia de documento manuscrito por ele, datado de São Luís, em 12 de outubro de 1905: "[...] mudei o nome de Manuel Francisco Pacheco para o de Manuel Fran Paxeco, que de então [1897] para cá tenho adotado em todos os atos públicos. O motivo desta alteração consistiu em existirem na cidade de Belém do Pará quatro pessoas com o nome de Francisco Pacheco, exercendo uma delas a profissão de comerciante. E sendo praxe ali, quando apareciam negociantes com nomes iguais, mudar o seu aquele que surgiu depois do já conhecido, tive que realizar essa transformação, ao entrar no comércio paraense". Não há dúvida: necessidades de ordem comercial determinaram a curiosa alteração.
Não apenas esse valioso documento a Academia recebeu dela. Ela esteve na sessão de quinta-feira passada da AML, como nossa convidada, tendo doado o chapéu que fazia parte da vestimenta consular usada em determinadas ocasiões por exigência protocolar do serviço diplomático português, acompanhado, o chapéu, de foto em que Fran o segura em atitude formal, trajando o restante daquela vestimenta. Passou à Academia igualmente uma espátula com cabo de prata e lâmina de marfim, bem maior do que os cortadores comuns de papel, usada, segundo nos informou a doadora, para separar folhas de jornais, quando vinham presas umas às outras seguindo dobras picotados na parte superior ou na lateral. Lupas de uso pessoal de nosso fundador e outras fotos inéditas foram doadas.
Ao final da sessão, o acadêmico Benedito Buzar propôs o nome da doutora Rosa Pacheco para ocupar cadeira atualmente vaga no Quadro de Membros Correspondentes da Academia. A proposta foi aprovada por unanimidade. Possivelmente, no próximo ano, por ocasião da inauguração, em prédio que serviu de residência a Fran Paxeco e sua família, do Museu do Azulejo da Prefeitura de São Luís, que terá no seu acervo a coleção de azulejos do acadêmico Joaquim Campelo, doada ao museu, doutora Rosa poderá tomar posse.
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