Homenagem e Posse
Jornal O Estado do Maranhão
No próximo dia 2 de outubro, Joaquim Haickel, recentemente eleito para a Academia Maranhense de Letras, Cadeira 37, anteriormente ocupada por Nascimento Morais Filho, será recebido na solenidade de posse pelo acadêmico José Louzeiro, ocupante da Cadeira 25. Ambos, o empossando e o que o recebe, são homens com profundas ligações com o cinema. O primeiro, ao mesmo tempo em que escrevia poesia e contos e liderava movimentos culturais, produziu e dirigiu diversos filmes, como, por exemplo, The best friend, O amigão, com o qual conquistou o prêmio de melhor filme e de melhor filme de cineasta maranhense, no festival Guarnicê de Cinema e Vídeo, realizado pela Ufma em 1984. Em 2008, baseado em um conto que escrevera nos anos 80, roteirizou, produziu e dirigiu Pelo ouvido, filme selecionado para quase uma centena de festivais de cinema no Brasil e no exterior e atualmente faz o curta-metragem Padre Nosso.
Louzeiro, por sua vez, escreveu os roteiros de Os amores da pantera, dirigido por Jece Valadão; Lúcio Flávio, o passageiro da agonia, baseado em romance homônimo dele, filme dirigido por Hector Babenco; Pixote, a lei do mais fraco, também baseado em livro dele, A infância dos mortos; O caso Cláudia, com o maranhense Miguel Borges e Valério Meinel; O homem da capa preta, com Sérgio Rezende e Tairone Feitosa; e diversos outros roteiros.
O que eu quero dizer é isto. Joaquim Haickel e José Louzeiro, por suas afinidades cinematográficas e pela amizade entre os dois, estão em tal sintonia que a recepção de um pelo outro na Academia parece não apenas adequada, mas, sobretudo, natural, inevitável, inescapável. É como se o encontro deles a 2 de outubro estivesse escrito desde sempre. E quem ousará desafiar o que há incontáveis séculos está nos livros?
Foi esta a razão de eu ter aceito sem vacilação a ideia de transferir a homenagem que a Academia prestaria a Louzeiro no dia de seu aniversário, 19 de setembro, para o dia 3 de outubro, logo depois da posse de Joaquim. Acontece que problemas de saúde de Louzeiro o impedem tanto de viajar frequentemente, como seria o caso de vir aqui em setembro e de novo em outubro, quanto de ficar ausente por longos períodos de sua residência no Rio de Janeiro, como aconteceria se ficasse entre nós de 17 de setembro, quando chegaria a São Luís, até 3 ou 4 de outubro. De qualquer maneira, haverá a posse, haverá uma palestra de Louzeiro e haverá uma homenagem a ele, durante um almoço que a Academia lhe oferecerá, eventos da Academia que comporão importante parcela de nossa programação este ano. Logo a seguir, no dia 9 do mesmo mês, teremos a posse de Ney Bello Filho na Cadeira 40, antes ocupada por Antônio Almeida.
Louzeiro é escritor de projeção nacional e, por sua vasta obra (romance, novela, conto, literatura infantil, roteiro de cinema, jornalismo), é reconhecido como um dos grandes escritores brasileiros de sua geração. É o criador no Brasil do romance-reportagem e já escreveu mais de 40 livros. Entre os mais conhecidos estão: Infância dos mortos; Lúcio Flávio, o passageiro da agonia; Aracelli, meu amor; Em carne viva, sobre o drama de Zuzu Angel e de seu filho Stuart Angel, morto sob tortura no período ditatorial pós-1964. Entre os infanto-juvenis: A gang do beijo; Praça das dores, uma lembrança dos meninos assassinados na Candelária, em 1993; A hora do morcego (Ritinha Temporal); e Gugu mania. Entre as biografias: Cantando para não enlouquecer, sobre a cantora Elza Soares; André Rebouças; O anjo da fidelidade, sobre Gregório Fortunato, o guarda-costas de Getúlio Vargas; Ana Neri, a brasileira que venceu a guerra. Coordena atualmente uma coleção de romances policias para a Editora Nova Fronteira, com 3 livros lançados: No fio da noite, de Ana Teresa Jardim, Juízo final, de Nani e A fina flor da sedução, dele mesmo.
O convite de Joaquim para sua recepção por Louzeiro e a homenagem da Academia a esse extraordinário homem de letras representam o justo reconhecimento da contribuição dele, muito pessoal e original, à cultura brasileira.
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