Conversionário
Jornal O Estado do Maranhão
Eu sempre avaliei o Big Brother Brasil como fonte inesgotável de sabedoria. Era só ver um episódio no início da temporada do programa para certificar-me do acerto da avaliação. A diversidade de perfil dos participantes sempre foi garantia de diversidade de visões sobre os grandes problemas que afligem a humanidade, cada entendimento individual oferecendo um modo diferente de encarar a vida, de expor o que ia, ou vinha, na mente (e quantas vezes nos corpos!) deles, de mostrar a própria alma e, reconheçamos, partes íntimas da anatomia humana.
Em outro plano, dúvidas sobre pesquisa científica pura e aplicada, a língua portuguesa, linguística, literatura, pintura, escultura, história, filosofia, sociologia, psicologia, antropologia, economia, administração, direito, biologia, física, química, matemática, engenharia, astronomia, cosmologia e todos os demais ramos do conhecimento humano, dúvidas, eu dizia, do telespectador jamais ficam sem resposta bem elaborada, com todos os naturais volteios do pensamento, como os pulos de trapézio no cérebro de Brás Cubas e seu emplastro anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a “melancólica humanidade” e satisfazer a “sede de nomeada” de seu inventor.
O BBB é benéfico porque ajuda na criação de emprego numa economia tão necessitada deles. Nada é mais de se louvar. Tal consequência, intencional ou não, é bem-vinda, num momento de crise econômica como este que vivemos e ainda viveremos por algum tempo. Os ex-integrantes da casa onde eles se recolhem a fim de meditar são absorvidos com rapidez pelo marcado de trabalho na profissão de ex-participantes do BB, não sei se com carteira de trabalho assinada e por quem. Eles vão a festas, onde são objeto da natural curiosidade dos festeiros, a bailes de debutantes, a rodeios no interior de São Paulo, dão entrevistas a revistas especializadas, podemos dizer, em fazer à distância análise detalhada da vida do próximo.
Porém, a redução da taxa de desemprego é temporária, temos de admitir, pois passados poucos meses e tendo rodado por todas as baladas do país, eles caem num buraco negro da vida social e desaparecem para sempre. Somem das colunas, não recebem mais convites para coisa nenhuma, seus telefones deixam de tocar, as caixas de entrada de seus e-mails permanecem vazias e quando enviam mensagens não recebem respostas. Perambulam pelas ruas da cidade e alguns já foram vistos à beira-mar pregando aos tubarões da popularidade. Mas, como dizem quando tudo vai mal, tudo bem. Ter emprego temporário é melhor do que ser um eterno desempregado.
É a da inovação linguística a seara em que demonstram notável habilidade com idiomas, em especial com o inglês e a língua pátria. Os BBBs mostram aí a que vieram. Em benefício do enriquecimento vocabular do português, interessantes neologismos são propostos a todo o momento. Ninguém imagine que são modismos passageiros a serem logo esquecidos. São marcos que acompanharão o idioma pelos séculos. O mais recente foi conversionário. Seu nascimento trouxe a marca de uma autoridade no trato com as palavras, pois foi proposta por uma professora de português. Com a segurança de quem domina o assunto e sabe o que está fazendo e dizendo, ela ofereceu a novidade ao ser chamada ao confessionário, uma pequena cabine onde os BBBs dão opinião sobre variados assuntos da casa, especialmente sobre os companheiros de confinamento. Soltou com rara naturalidade o conversionário.
Mas, por que rejeitar um neologismo de criação instantânea e espontânea como esse? No confessionário, vocábulo com tons religiosos por suas ligações com a Igreja Católica, os BBBs conversam fiado com o apresentador do programa. Conversar, conversionário. Por que não mudar para palavra de tom mais mundano como essa?
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