Cem Anos
Jornal O Estado do Maranhão
Cem anos. Um quase imperceptível pulsar do tempo medido pela eternidade do infinito universo. Um nada. Cem anos. Uma eternidade na escala do breve viver humano. Tempo mais longo, para a maioria de nós, do que aquele durante o qual podemos caminhar, com nossas angústias, paixões, ódios e amores, egoísmo e generosidade, utopias e ceticismo, por nosso microscópico planeta de uma pequena estrela perdida na periferia da Via Lactea. Tempo suficiente para construir uma obra que irá durar, em anos, muitas vezes cem, a iluminar a imensidão interior (o infinito maior é o próprio homem, Tribuzi nos diz) de cada um de nós e nossos sucessores. Celebramos os primeiros cem anos da Academia Maranhense de Letras, de muitos outros que nossos filhos e netos irão celebrar. Parte de uma série infinita no porvir, esta comemoração, dirigida pela Diretoria que tive a honra de presidir, composta, além de mim, por José Maria Cabral Marques, Jomar Moraes, José Chagas, Laura Amélia Damous, Marialva Mont’Alverne Frota e Alex Brasil, honrou as tradições da Casa. Tanto esta nos deu, a nós maranhenses, desde 10 de agosto de 1908. Este 2008, foi o momento de darmos a ela, com mais intensidade até do que o fazemos no cotidiano de nossa vida acadêmica, o que não é pouco, amor, dedicação, entusiasmo e tudo mais que o sentimento de orgulho que temos de a ela pertencer, nos indicava como dever inarredável, mas, ainda acima disso, revelava a nós mesmos a satisfação, o prazer, de quem tem a consciência de dar necessária contribuição à história de tão importante instituição cultural. E será sempre assim, porquanto, não sendo obra de ninguém individualmente, é obra de todos no decorrer do tempo. E tanto é assim que a Casa vive porque morremos, cedemos o caminho aos novos caminhantes que nos vêm substituir, com entusiasmo e determinação, quando regressamos ao pó de onde viemos, mas não nosso espírito, que esse não regressa, antes continua na Academia e será lembrado em cada solenidade de posse, e fora dela, se mais tivermos feito para merecer a lembrança. Felizes e contentes estávamos na noite do dia 22, ocasião em que entregamos a medalha do Centenário aos acadêmicos e amigos da Academia. Vimos então o muito realizado no Centenário. Foram dezessete eventos. O início das festividades deu-se a 6 de março, quando Vasco Mariz discorreu sobre a fundação de São Luís e lançou seu livro La Ravardière e a França Equinocial. No dia 28 de março, a professora Andréa Daher, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, fez uma apresentação acerca das missões religiosas francesas e portuguesas no Maranhão, nos primórdios da colonização, e uma sessão de autógrafo de seu livro O Brasil Francês: as singularidades da França Equinocial. O poeta Luiz Augusto Cassas lançou no dia 5 de junho o seu Evangelho dos peixes para a ceia de Aquário. No dia seguinte, foi Marco Lucchesi, poeta, ensaísta e tradutor de renome nacional, quem o fez, com seus livros Memória de Ulisses e Meridiano celeste, após proferir brilhante palestra sobre a poesia de Dante. Depois, Sebastião Moreira Duarte, no dia 17 de julho, fez uma exposição sobre Sousândrade. Em agosto, mês da fundação da Academia, no dia 15, José Sarney, em noite memorável, que contou com as presenças do presidente da Academia Brasileira de Letras, Cícero Sandroni, e do ex-presidente, Marcos Vilaça, falou sobre a história da Casa e prestou homenagem aos fundadores. Milson Coutinho, ainda em agosto, no dia 22, nos ofereceu seu novo livro, Ouvidores-gerais e juízes de fora, em noite de autógrafos. Em 18 de setembro, Antônio Martins de Araújo falou sobre “A Permanência de Artur Azevedo”. Este é o ano do centenário de morte do teatrólogo maranhense. Ainda em setembro, no dia 26, o biógrafo Fernando Morais lançou O mago. Ivan Junqueira, da Academia Brasileira de Letras fez palestra, no dia 7 de outubro, sobre Gonçalves Dias. Ceres Costa Fernandes lançou, no dia 4 de dezembro apresentou novo livro de ensaios, Surrealismo & loucura e outros ensaios. Alberto Vieira da Silva homenageou os quatrocentos anos de nascimento do padre Vieira, no dia 11, falando acerca dos Sermões sobre Santo Antônio do grande jesuíta. A temporada de lançamentos em homenagem ao Centenário chegou ao final no dia 16 de dezembro com Waldemiro Viana e seu Passarela do Centenário, e José Chagas, com Portugal (discurso em versos). Tivemos ainda a fundação da Academia Maranhense de Ciências, cuja instalação solene foi realizada na AML, onde a nova entidade funcionou durante algum tempo, e a fundação da Federação das Academias de Letras do Maranhão, em que a AML teve e tem ativa participação. Por ocasião da solenidade de instalação, Sálvio Dino proferiu palestra sobre academias de letras e sobre a idéia de fundar a federação no Maranhão. Menciono em destaque dois lançamentos que nos orgulham muito. Um foi o a reprodução do álbum fotográfico confeccionado em 1908 por Gaudêncio Cunha, por encomenda do governo do Estado, com o fim de ser levado à Exposição Nacional daquele ano no Rio de Janeiro. Ele dá um retrato da São Luís do ano de fundação da Academia. O outro lançamento foi o da coleção, em parceria com a Universidade Estadual do Maranhão, de doze livros dos fundadores. Somente este trabalho, já valeria o festejo inteiro do Centenário, se não quiséssemos fazer mais nada, o que, claro, não foi o caso. A direção editorial da série esteve a cargo de Jomar Moraes, certamente conhecedor seguro das biografias dos fundadores e da obra deles. Destaco igualmente a participação especial da Academia na II Feira do Livro de São Luís, promovida pela prefeitura de São Luís e coordenada pela Fundação Municipal da Cultura, que, em homenagem ao Centenário, colocou à nossa disposição espaço exclusivo com primorosa decoração e entusiasmado comando, nas tarefas de planejamento e execução, de Lúcia Nascimento. Todas as realizações do Centenário, todo o brilho de que ele se revestiu, tornou-se possível porque contamos com o apoio da sociedade maranhense, prova inequívoca do prestígio da Academia. Pessoas e instituições, setor público e privado. Todas as contribuições, grandes ou pequenas, de alto valor monetário, ou de pequeno valor, foram importantes. A nenhum faltou compreensão do alto significado de comemorar o centenário da guardiã de nossas mais queridas tradições de cultura. Foi com o fim de fazer um congraçamento verdadeiro que nos reunimos naquela noite. Somos um único povo que, acima de eventuais divergências, tem o Maranhão para unir todos. Pudemos proclamar com orgulho que juntos fomos capazes de importantes realizações e, com isso, depositamos uma valiosa poupança no fundo de nosso capital cultural que, longe de crises e sobressaltos, sempre nos oferece altos rendimentos a serem investidos pelo bem de nossa terra.
Comentários