Nunca antes?
Jornal O Estado do Maranhão
Nunca antes na história brasileira foi tão evidente que a construção de uma nação é obra de gerações, de várias administrações, de governantes com diversificadas orientações ideológicas. Tal como acontece com todas as instituições humanas, cujas construções não dependem nem podem depender, por constituir tarefa impossível, de vontade ou visão únicas. Demos nos últimos quinze anos passos enormes para nos tornarmos cidadão de um país do presente e não mais do futuro, aquele, sabia-se lá em quanto tempo, destinado a se tornar grande entre os grandes, permanente cantilena em meus ouvidos desde o dia em que pude entender alguma coisa a respeito do Brasil.
Faço estas reflexões motivado pela tendência do atual governo de pensar ser Lula o descobridor do Brasil, o verdadeiro Pedro Álvares Cabral e as faço, ainda, informado pelo estudo feito pelo professor Claudio Salm, do Departamento de Economia da UFRJ e Membro da editoria do site Aparte – Inclusão Social em Debate, objeto de notícia dada por Elio Gaspari na Folha de S. Paulo. Segundo o resumo feito pelo jornalista, as Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios de 1996 e 2002, que inclui os anos de governo do PSDB, e de 2008, cobrindo os do PT, fornecem dados que mostram isto: 48,5% dos domicílios de famílias consideradas pobres, em 1996, tinham água encanada. No fim do governo tucano, em 2002, essa percentagem era de 59,6%, aumento de 11,3 pontos percentuais. Ao longo da administração petista esse indicador subiu mais 8,7 pontos percentuais. Significa dizer que a água encanada chegou a 68,3% dos domicílios dos pobres em 2008.
Em saneamento, as coisas se passaram de maneira semelhante. No período tucano, o acesso à rede de esgoto, dos mesmos domicílios das famílias pobres, passou de 32,3% a 41,4%, um ganho de 9,1 pontos percentuais entre 1996 e 2002. O PT acrescentou outros 11 pontos percentuais elevando o indicador a 52,4% de domicílios com acesso à rede. Os serviços de luz elétrica evoluíram de 79,9% em 1996 para 90,8% em 2002 e 96,2% dos domicílios pobres em 2008. Os telefones saíram de 5,1% e chegaram a 28,6% nos anos tucanos e a 64,8% em 2008, na gestão petista. Outros indicadores tiveram evolução parecida, como a coleta de lixo.
Percebe-se nesses números melhoria constante, quase em linha reta, sem que esta apresente mudanças em sua inclinação, vale dizer sem elevação nas taxas de evolução. Não houve, a partir do início da administração petista, aceleração nenhuma na tendência anterior. Não é coincidência que a correta política econômica do governo Lula seja a continuação da política de FHC.
Antes disso tudo, no entanto, no período de José Sarney como Presidente da República, a experiência acumulada no combate à inflação, prejudicado pela configuração política da época de transição, quando o país estava saindo do regime ditatorial, serviu de valioso subsídio para o início, no governo Itamar Franco, da vitória sobre a inflação. O fim desta permitiu ao país promover – superado o período de adaptação à nova realidade surgida com o restabelecimento do sistema de preços relativos, que orienta as decisões de investimento e consumo das empresas e das famílias e ante os arranjos institucionais existentes –, a melhor alocação possível dos escassos recursos da economia.
Qual o sentido então de se empenharem o PSDB e o PT numa disputa ao estilo futebolístico a fim de ver quem é o tal? A emulação entre eles é até bem-vinda e é natural que os partidos queiram exaltar suas realizações, mas não a ponto de sovieticamente empenhar-se em fazer o outro desaparecer da história do país, como se fazia na antiga União Soviética. O Brasil está se tornando uma força considerável na arena internacional. Isso não ocorre por acaso ou por vontade de um ser superior e infalível, isento de erros. Acontece porque estamos nos tornando economicamente importantes nos mercados globais e amadurecendo como nação. Acontece porque estamos construindo, todos nós, sem monopólios da sensibilidade social, uma sociedade melhor.
Comentários