Poesia no Centenário

Jornal O Estado do Maranhão


As festividades comemorativas do Centenário de fundação da Academia Maranhense de Letras têm prosseguimento esta semana com dois eventos. Na próxima quinta-feira, 5 de junho, o poeta Luís Augusto Cassas, lançará o livro Evangelho dos Peixes para a Ceia de Aquário, com prefácios de Paulo Urban e José Mário da Silva e orelhas de Leonardo Boff e Frei Betto. A capa, desenhada por Júlio Moreira, tem ilustração de Jesus Santos, artista plástico maranhense de renome. Na sexta-feira, dia 6, teremos Marco Lucchesi, que discorrerá sobre Dante, por meio do tema “Os Olhos de Beatriz”. As duas solenidades ocorrerão às 20 horas, na sede da Academia, à rua da Paz, Centro.
Não é coincidência a data do lançamento de Cassas. Cinco de junho é o dia do Meio-ambiente e o livro dele tem como tema, entre outros, o ambiente – especialmente, um dos seus componentes vitais, a água – vítima da ação predatória do homem moderno, construtor incompetente de uma sociedade em que, prisioneiro da lógica da aquisição, da qual raras vezes é capaz de se libertar, reproduz acriticamente um estilo de vida cuja principal característica é a mecanicidade nas relações humanas e ausência de reflexão sobre o sentido de estar no mundo e de viver. Tal armadilha criou um mundo ameaçado de retorno à barbárie, com ciclos intermináveis de guerras e genocídios e permanente manipulação das pessoas e suas consciências como triste regra de convivência.
Como o título sugere, as águas, como metáfora da pureza, mas também como fonte de sobrevivência do corpo, constituem preocupação do poeta, como, por exemplo quando fala do rio Itapecuru: “quem irá pagar / a conta suicida / de exterminar / a água da vida?”. Ele nos chama a uma reflexão e mostra a necessidade de misericórdia com a Terra e compaixão por ela e seus habitantes. Não se trata de parecer bom moço preocupado com o meio ambiente, mera pose vista por toda parte hoje em dia. Nada mais longe de um poeta cuja poesia é visceral, parte indissociável de sua vida e não exibicionismo. Mas, da percepção dele de que os seres humanos formamos com nosso planeta uma unidade, um todo indivisível e que destruí-lo é aniquilar a nós mesmos.
A obra de Cassas, pontilhada como é de referências universais, assim como de referências maranhenses (vejam os poemas Pranto pelo Rio Itapecuru, Oração pelos Rios do Maranhão e outros) pode ser lida sem perda do entendimento poético por quem sequer souber da existência de nossos rios e mares (não dizem que é preciso falar da própria aldeia a fim de fazer-se entender universalmente?). Essa é verdadeiramente uma das marcas dos grandes artistas, o constituinte da universalidade da arte, o verso e o universo.
O segundo evento, o 5º do Centenário da AML, no dia 6 de junho, terá a presença de Marco Lucchesi, poeta, tradutor, ensaísta, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, professor visitante da Universidade de Roma Tor Vergata (2006) e da Universidade de Craiova, Romênia (2007). Ele é formado em História pela Universidade Federal Fluminenese, doutor em Ciência da Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pós-doutor em Filosofia da Renascença na Universidade de Colônia, Alemanha. Lucchesi, ao final de sua palestra autografará A memória de Ulisses, livro de ensaio, e Meridiano celeste, de poeisa. A vastidão de sua obra me impede de relacioná-la aqui. Ela mostra o amplo espectro de interesses de um escritor moderno que atua em quase todos os gêneros literários e em várias línguas.
O assunto da palestra dele, Dante – Os olhos de Beatriz, refletirá certamente as grandes reflexões atuais sobre poesia. Sua realização será boa oportunidade de contato com uma leitura moderna acerca de um dos formadores da cultura européia e, portanto, da nossa.

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