Aml, festejos no Centenário
Jornal O Estado do Maranhão
Há duas semanas, no dia 23 de abril, a Academia Maranhense de Letras recebeu em sua sede a Universidade Estadual do Maranhão – Uema, que na ocasião lançou 10 livros resultantes do trabalho de 9 de seus pesquisadores. A solenidade serviu a duas finalidades principais. A primeira foi a de apresentar ao público não universitário parte da produção acadêmica da Uema. A outra foi a de homenagear a AML no ano do seu Centenário. Como bem disse o reitor, professor José Augusto Oliveira, existe natural atração intelectual entre as duas casas de cultura. A fim de tornar concreto esse potencial de cooperação, foi assinado entre as duas instituições um convênio que tornará possível, entre outras ações, a implementação de um indispensável programa editorial, sem o qual os festejos do Centenário estariam incompletos. Serão publicados doze livros, um de cada fundador da Academia, recolocando em circulação livros que, a par de possuírem valor por si mesmos, são exemplificativos de um período, começo do século XX, de nossa história literária. Na segunda-feira passada, dia 28, tiveram continuidade as festividades, com uma palestra de Andrea Daher, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sobre o tema de seu livro O Brasil Francês: as singularidades da França Equinocial, publicado há poucos meses pela Editora Record, em que ela analisa as características da missão capuchinha francesa no Brasil a partir do caso do Maranhão, comparando o discurso dos capuchinhos franceses com o dos jesuítas portugueses, acerca da missão deles no Brasil na busca da cristianização e a ocidentalização dos índios. Sobre a fundação de São Luís – se pelos franceses ou pelos portugueses – e observando que considera a questão irrelevante, a palestrante lembrou o conceito de “fundação letrada”, de acordo com o qual funda-se uma cidade também pelas letras, pois são os discursos dos letrados que criam e legitimam os mitos fundadores, sendo os livros de Abbeville e Evreux exemplos franceses desse tipo de discurso. Dessa perspectiva, haveria uma fundação francesa, uma portuguesa... Andrea Daher é doutora em História pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, na França, (1994) e no momento faz pesquisas sobre a gramaticalização e a dicionarização das línguas indígenas da América portuguesa e hispânica nos séculos XVI e XVII. Foi professora do Departamento de Filosofia e Ciências da Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação – Setor de História e Historiografia da Educação – da Universidade de São Paulo, USP. Fez pós-doutorado também na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, quando desenvolveu pesquisa intitulada As línguas americanas na cultura letrada européia dos séculos XVI e XVII. Ela tem dezenas de publicações de que damos apenas algumas: Cultura escrita, oralidade e memória: a língua geral na América portuguesa, parte do livro Escrita, linguagem, objetos. Leituras de História Cultural, 2004; direção editorial, pesquisa, concepção e realização do catálogo da Exposição Surrealismo, do Centro Cultural Banco do Brasil / Instituto Takano, 2001; A história da missão dos Capuchinhos nos Brasil (1612-1615), no livro Um inconsciente pós-colonial, 2000. A presença da professora Andrea no Centenário acrescentou brilhantismo aos festejos, por todas as suas qualificações como pesquisadora que desenvolve trabalho científico consistente e de alta qualidade. Sua vinda ao Maranhão contou com o decisivo apoio da Prefeitura de São Luís, na pessoa do prefeito Tadeu Palácio, atento à importância do tema para São Luís, e do São Luís Convention & Visitors Bureau, por intermédio de seu presidente, Nan Souza. Ambos atenderam prontamente ao apelo da Academia, tornando possível a realização do evento.
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