Conversa com máquina?
Jornal O Estado do Maranhão
Faz sete anos que fiz aqui, a 23 de março de 2001, referências ao brasileiro Jean Paul Jacob, ex-aluno do Instituto Tecnológico da Aeronáutica e pesquisador do Centro IBM de Pesquisas, na Califórnia. Ele se dedica ao estudo da evolução futura da tecnologia, sendo, portanto, uma espécie de futurólogo. Não daquele tipo visto nos finais de ano na televisão, especialista em prever o óbvio, e tanto, que é capaz de dizer que no Ano Novo pessoa muito conhecida no mundo dos esportes se divorciará, depois de um longo casamento de dois ou três anos.
O homem de quem falo leva sua especialidade a sério, mas escorregou ao fazer naquele ano sombria previsão sobre a morte do livro de papel. Dadas as tecnologias disponíveis, a maioria dos estudiosos do assunto não vê justificativa para previsões como a dele. Alguns admitem a possibilidade de o suporte do livro – o próprio papel – ser substituído por materiais com as mesmas características das dele, em termos de flexibilidade, durabilidade, facilidade de manuseio e portabilidade. Seria um novo e tecnologicamente avançado produto, não disponível ainda. Neste caso, contudo, estaríamos tratando em verdade com um suporte semelhante, sem capacidade de em nada alterar o livro como o conhecemos. Com os padrões tecnológicos de que dispomos hoje e os novos desenvolvimentos científicos num horizonte de previsão realista, o livro, como o conhecemos, ainda estará conosco durante muito tempo.
Li um dia desses uma entrevista de Jean Paul acerca dos desafios que a sociedade deve enfrentar neste século no seu relacionamento com as máquinas e, de modo especial, com os computadores. Depois de falar do impacto na vida das pessoas de tecnologias incorporadas a produtos de grande sucesso, como o telefone celular, o notebook e o GPS, e de citar o fracasso de outros, como o videofone, ele passa a discorrer sobre o maior desejo das pessoas: computadores comandados por voz. Quem não gostaria de poder conversar com eles e dar-lhes ordens à vontade? Escreva isso, escreva aquilo. Evidente, os equipamentos mais modernos respondem a comandos simples de voz. Isso, todavia, sequer se aproxima do entendimento da linguagem humana.
Os idiomas são repletos de ambigüidades. Textos ou falas fazem sentido num contexto determinado, ao qual têm a capacidade de se adaptar. A mesma frase em português pode significar coisas diferentes, para brasileiros e portugueses, embora na aparência expresse a mesma idéia ou intenção. Mesmo em comunidades que ocupam territórios contínuos, com uma única língua, há diferenças de interpretação do mesmo discurso, a depender da classe social do falante. O mesmo se dá em relação às gerações. Livros escritos cem anos atrás, lidos agora poderão ser objeto de interpretação diferente da dos leitores da época de sua publicação. Mais ainda, o mesmo texto, na mesma comunidade, na mesma classe social, no mesmo ambiente, na mesma época significará coisas diferentes para diferentes indivíduos. Por isso, os estudiosos do assunto dizem ser o leitor o verdadeiro criador do sentido de um texto.
Essas características tornam impossível fazermos os computadores entenderem os humanos. Como máquinas, eles têm linguagem própria, com grau de ambigüidade igual a zero por definição e, assim, adaptável unicamente ao ambiente da própria máquina. Não se vislumbram ainda linguagens parecidas com a nossa, utilizáveis por computadores. Estamos a anos luz do tempo quando eles poderão se comunicar conosco, usando a mesma linguagem que usamos na comunicação com nossos semelhantes. Até lá, a tecnologia terá de evoluir de forma inimaginável hoje.
Mas, existirá verdadeira e duradoura comunicação entre os seres humanos ou vivemos presos na armadilha da eterna e angustiante incomunicação?
O homem de quem falo leva sua especialidade a sério, mas escorregou ao fazer naquele ano sombria previsão sobre a morte do livro de papel. Dadas as tecnologias disponíveis, a maioria dos estudiosos do assunto não vê justificativa para previsões como a dele. Alguns admitem a possibilidade de o suporte do livro – o próprio papel – ser substituído por materiais com as mesmas características das dele, em termos de flexibilidade, durabilidade, facilidade de manuseio e portabilidade. Seria um novo e tecnologicamente avançado produto, não disponível ainda. Neste caso, contudo, estaríamos tratando em verdade com um suporte semelhante, sem capacidade de em nada alterar o livro como o conhecemos. Com os padrões tecnológicos de que dispomos hoje e os novos desenvolvimentos científicos num horizonte de previsão realista, o livro, como o conhecemos, ainda estará conosco durante muito tempo.
Li um dia desses uma entrevista de Jean Paul acerca dos desafios que a sociedade deve enfrentar neste século no seu relacionamento com as máquinas e, de modo especial, com os computadores. Depois de falar do impacto na vida das pessoas de tecnologias incorporadas a produtos de grande sucesso, como o telefone celular, o notebook e o GPS, e de citar o fracasso de outros, como o videofone, ele passa a discorrer sobre o maior desejo das pessoas: computadores comandados por voz. Quem não gostaria de poder conversar com eles e dar-lhes ordens à vontade? Escreva isso, escreva aquilo. Evidente, os equipamentos mais modernos respondem a comandos simples de voz. Isso, todavia, sequer se aproxima do entendimento da linguagem humana.
Os idiomas são repletos de ambigüidades. Textos ou falas fazem sentido num contexto determinado, ao qual têm a capacidade de se adaptar. A mesma frase em português pode significar coisas diferentes, para brasileiros e portugueses, embora na aparência expresse a mesma idéia ou intenção. Mesmo em comunidades que ocupam territórios contínuos, com uma única língua, há diferenças de interpretação do mesmo discurso, a depender da classe social do falante. O mesmo se dá em relação às gerações. Livros escritos cem anos atrás, lidos agora poderão ser objeto de interpretação diferente da dos leitores da época de sua publicação. Mais ainda, o mesmo texto, na mesma comunidade, na mesma classe social, no mesmo ambiente, na mesma época significará coisas diferentes para diferentes indivíduos. Por isso, os estudiosos do assunto dizem ser o leitor o verdadeiro criador do sentido de um texto.
Essas características tornam impossível fazermos os computadores entenderem os humanos. Como máquinas, eles têm linguagem própria, com grau de ambigüidade igual a zero por definição e, assim, adaptável unicamente ao ambiente da própria máquina. Não se vislumbram ainda linguagens parecidas com a nossa, utilizáveis por computadores. Estamos a anos luz do tempo quando eles poderão se comunicar conosco, usando a mesma linguagem que usamos na comunicação com nossos semelhantes. Até lá, a tecnologia terá de evoluir de forma inimaginável hoje.
Mas, existirá verdadeira e duradoura comunicação entre os seres humanos ou vivemos presos na armadilha da eterna e angustiante incomunicação?
Comentários