Carlos de Lima na Academia
Jornal O Estado do Maranhão
Na próxima quinta-feira, às 20:30 horas, a Academia Maranhense de Letras realizará sessão solene, quando será empossado na Cadeira 7, patroneada por Gentil Braga e fundada por Alfredo de Assis, este do grupo dos doze fundadores originais da Academia em 1908, o historiador, folclorista, escritor, poeta e ator Carlos de Lima, que será recebido pelo acadêmico Sebastião Duarte. O empossando é sucessor da saudosa Lucy Teixeira, extraordinária figura humana e intelectual brilhante, durante quase 30 anos ocupante da Cadeira, antes regida apenas por seu fundador.
Presenciaremos mais uma vez um ritual marcado por necessário simbolismo, que sempre nos lembra que a imortalidade da Academia se constrói pela constante renovação de seus membros, pois após darem perenes contribuições à vida da Casa, eles se vão, permitindo novos, diferentes e revigorantes aportes ao patrimônio comum de nossa cultura pelos sucessores, que assim contribuem para a permanência dela.
Carlos de Lima chega à Academia depois de décadas de atividades em diversos campos da cultura. Tem publicadas as seguintes obras: folclore – Bumba-meu-boi, 1968 (2ª ed. 1973); Bumba-meu-boi do Maranhão (coletânea de toadas); A festa do Divino Espírito Santo em Alcântara, 1972 (2a ed. 1988); Lendas do Maranhão, 2006; história – História do Maranhão, 1981; Vida, paixão e morte da cidade de Alcântara, 1997; Caminhos de São Luís: ruas, logradouros e prédios históricos, 2002; cordel – Carta ao compadre Triburtino, 1995; ABC do SEBRAE, 1995. Publicou ainda As minhas e as dos outros: estórias maranhenses, 1988, livro de crônicas e contos, e uma elegia, Requiem para um menino, 1982. Tem ainda a publicar Poesias esparsas; Arquivo morto (memória); e uma novela, Tempestade no lago.
Ele foi também ator, tendo, no teatro, participado das peças A ratoeira; Gimba – presidente dos valentes; O processo de Jesus; A revolução dos beatos; e Por causa de Inês, todas encenadas pelo Teatro Experimental do Maranhão – Tema, grupo de presença marcante no teatro maranhense nos anos sessenta e que, nas palavras de Aldo Leite no seu Memória do Teatro maranhense, “para os grupos locais foi uma revolução”, sob a liderança de Reinaldo Faray, então recém-chegado do Rio de Janeiro. “Foi uma guinada de 180”, afirmou Zelinda Lima, esposa de Carlos, ativa no movimento teatral da época, em depoimento transcrito no livro de Aldo. No cinema, Carlos de Lima atuou em A faca e o rio e em Uirá, um índio à procura de Deus, filmes da inevitavelmente escassa produção local. Essas atividades mostram bem seu espírito inquieto e versátil.
Agora, ele se dedica à publicação de uma História do Maranhão, em 3 volumes, dada como 2ª edição de sua História do Maranhão, de 1981, mas que pode ser considerada uma obra nova, tal a extensão dos acréscimos à primeira edição. Apenas o primeiro volume, sobre o período colonial, publicado pelo Instituto Geia em 2006, na Coleção Geia de Temas Maranhenses, tem 637 páginas. O segundo, já em fase de edição final, tratará do período imperial e o último, do republicano. Será fonte permanente de consulta sobre nossa formação histórica.
Muitos se espantarão ao saber da idade desse homem de grande senso de humor, cavalheirismo (ele, doutor em viver, insiste em me chamar de doutor, apesar de meus protestos) e afabilidade: 88 anos a serem completados no próximo dia 14 de março. Mas, quem o conhece não se surpreende com seu vigor produtivo, que seria admirável mesmo em pessoas com 40 ou 50 anos de vida a menos, com sua capacidade intelectual e disposição para o trabalho.
A chegada de Carlos de Lima se dá no ano do centenário da Casa, onde é admirado tanto pelas suas qualidades humanas quanto pelos seus méritos intelectuais. Ele recebe desde já nossos abraços de boas-vindas.
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