O Maranhão não se dividirá

Jornal O Estado do Maranhão

Por fim inicia-se interessante discussão sobre a possível criação do Maranhão do Sul. Nela também vou meter minha colher, dizendo logo que sou contra a divisão. Vínhamos ouvindo tão-só pontos de vista de um dos lados, o favorável à separação. Agora poderemos ter uma visão mais equilibrada, pois já temos quem se manifeste contra a idéia, como o jornalista Antônio Carlos Lima em bem argumentados artigos publicados neste jornal. Faltou até agora aos separatistas um requisito básico a debates, não digo sérios porque todos são sérios ou não são debates, mas perda de tempo: a realização de estudos que permitam avaliação dos benefícios e prejuízos da presumível nova situação. Qual seria a base econômica da nova unidade? Sua receita seria suficiente para sustentar a nova burocracia, de contínuos a desembargadores, procuradores, deputados e secretários, e ainda gerar recursos de investimentos? Ou estariam os separatistas contando com ajuda do governo federal? Como seria afetada a parte remanescente? Se estudos existem, devem ser trazidos a público. Poderemos a partir daí testar afirmações recorrentes, como a de serem os valores dos investimentos públicos de sucessivas administrações estaduais na região menores (ou maiores, do ponto de vista oposto) do que a receita ali arrecadada. Ouvem-se reclamos sobre a grande distância da capital. Seria a lonjura um fator agravante de suposto descaso com os legítimos interesses locais de parte dos dirigentes estaduais. Ora, Washington fica no leste dos Estados Unidos, perto do Oceano Atlântico, e Los Angeles, na costa oeste, no Pacífico, mas não se ouve falar de separação por causa disso. A Rússia tem sua capital, Moscou, no lado oeste do país. Está tão longe de Anadyr, no nordeste, na Sibéria, que há uma diferença de oito fusos horários entre a capital e a cidade. Mesmo assim, o separatismo no país tem raízes étnicas, sem relação com essa imensa distância. O argumento de que estar afastado geograficamente seria uma das razões para a divisão serviria de abono a movimentos semelhantes em muitos países grandes ou médios e não se justifica na era de comunicação instantânea. O Brasil se fracionou quando a capital era no Rio de Janeiro, tão distante de Manaus e de Belém? A região meridional maranhense é mais integrada ao todo estadual hoje do que o foi em qualquer época – fenômeno acentuado a partir da explosão de crescimento de Imperatriz em decorrência da abertura da Belém-Brasília –, como se deduz do fato de dois políticos da região terem exercido o cargo de governador. O Maranhão se formou numa dinâmica histórica vinda do Estado Colonial do Maranhão, passando pelos Estados do Maranhão e Grão-Pará; do Grão-Pará e Maranhão; do Maranhão e Piauí; Colonial do Maranhão novamente; Província, no Império, e, finalmente, Estado do Maranhão, na República. O que restou do antigo território colonial reflete essas mudanças administrativas de abrangência espacial que nos deixaram no limite natural de agora, dado pelos rios Parnaíba, Gurupi e Tocantins, e consolidado ainda no século XIX, com a contribuição decisiva da atuação parlamentar e dos estudos de Cândido Mendes de Almeida: O Turiaçu, ou a incorporação deste território à Província do Maranhão e A Carolina, ou a definitiva fixação dos limites entre as províncias do Maranhão e Goiás. O fato de parte das atividades econômicas do sul estar voltada para o Tocantins é apenas o que se deveria esperar de regiões limítrofes. Deveríamos devolver Carutapera ao Pará, Carolina a Tocantins, oferecer Timon ao Piauí, ou criar Estados nessas regiões somente porque têm forte intercâmbio econômico com os vizinhos? Na gênese da idéia de separação estão diferenças culturais surgidas em tempo relativamente recente. Com o boom da soja chegaram à região levas de irmãos sulistas. A bem-vinda diversidade proporcionada pela presença deles deveria ser fator de união, não de criação de nenhuma República de Piratini do Norte ou de efêmera República Juliana.

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