Opereta sulamericana

Jornal O Estado do Maranhão

A diplomacia brasileira é conhecida no mundo todo pela competência, ou foi conhecida, até o momento em que o governo do Brasil decidiu orientar sua política externa por critérios ideológicos e não pelos interesses nacionais, como todos fazem na arena internacional. Um dos resultados, para a surpresa de ninguém, ou, talvez, apenas, dos ideólogos governamentais, foi esse que se vê neste momento: expropriação pelo governo boliviano de investimentos da Petrobrás. E, no entanto, o presidente da Bolívia foi eleito tendo o nosso como animado cabo eleitoral.
Um dos argumentos usado com freqüência pelo pessoal de mentalidade estatizante, aqui em nosso país, contra a privatização das empresas-dinossauros estatais, era o de que a venda de seus ativos se dava “a preço de banana”, com perda de parte do patrimônio do povo brasileiro que, é bom notar, havia passado na prática às mãos e pés da burocracia e da tecnocracia. Ora, a Petrobrás é uma estatal brasileira. O patrimônio expropriado não é do povo da mesma forma? Não, a julgar pelo silêncio veemente dos defensores esquerdistas da hipertrofia do Estado. Se, nas privatizações, o preço era de banana, o de agora, que é zero, será de casca de banana ou nós é que somos bananas? Os companheiros do país vizinho podem tomar tudo que lhes apetecer, sem correr o risco de excomunhões ideológicas. Talvez estejam apresentando ao mundo o capitalismo selvagem estatal boliviano.
Nossa política externa tem se caracterizado nos últimos anos pela firme opção preferencial pela pobreza. Em lugar de negociar, por exemplo, nossa entrada na Alca, proporcionando acesso das empresas brasileiras ao mercado nacional com o maior poder de compra do mundo, o dos Estados Unidos, bem como ao do Canadá, demos preferência à associação com a Venezuela do sargento golpista Chavez, à Bolívia do cocaleiro Morales, à Cuba do velho companheiro Fidel, a várias nações africanas, cujos mercados em conjunto têm poder de compra menor do que o da maioria dos Estados brasileiros isoladamente, e nos distanciamos da Argentina e Uruguai, nossos parceiros no Mercosul. O senador Aloizio Mercadente, em louvor aos feitos internacionais de Lula, disse que “não há líder do planeta que não queira se reunir com ele para trocar idéias e percepções sobre a construção do futuro”. Quem sabe Bush o chame com a intenção de ouvir conselhos sobre a melhor maneira de resolver os problemas americanos no Iraque ou sobre a estratégia adequada de obter paz no Oriente Médio.
O nosso governo vê o ato arbitrário como “soberano” e confia na palavra do presidente Morales, de que o abastecimento de gás natural para o Brasil não será interrompido porque está garantido “pela vontade política de ambos os países”, com se alguém que acabou de quebrar um compromisso pudesse dar garantia de alguma coisa. Ao adotar posição como essa, nos colocamos em posição frágil. Em outras palavras, a resposta brasileira à violência foi pífia, deixando expostos o consumidor, o contribuinte e a indústria brasileiros aos humores políticos internos da Bolívia. Em lugar de determinar a suspensão dos investimentos brasileiros na economia boliviana, Lula pretende aumentá-los.
Com respeito ao preço do gás, a história é diferente. Contratos de longo prazo existem precisamente para, além de garantir a regularidade no fornecimento, minimizar as oscilações bruscas e freqüentes de preços, sendo comum neles constarem cláusulas com regras bem definidas de reajustes, neste caso a cada cinco anos. Aumentar preços, como pretendem os bolivianos, em 45%, com base tão-só em avaliações de curto prazo, é desrespeitar regras elementares de negociações comerciais, ameaça a que o Brasil não deve ceder.
Vejamos como terminará essa opereta sulamericana.

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