Namoro nas prateleiras
Jornal O Estado do Maranhão Eu sou um freqüentador assíduo de livrarias. Muitas vezes, vou lá unicamente para namorar. Os livros, bem entendido, as mais recentes publicações. Eu chego, pego uma do meu agrado, vejo se é macia ou áspera, gorda ou magra, sinto a lombada, sua coluna vertebral, com a ponta dos dedos, dou um leve sopro na orelha, avalio a textura da pele, quero dizer, do papel, estimo, da cabeça aos pés, o tamanho, com meu olhar de profundo conhecedor, considero a palidez ou o rubor das caras, perdão, das cores e estimo furtivamente a adequação das formas, a simetria da composição, a suavidade das linhas e a possibilidade de ocorrência de defeitos à primeira vista ocultos, risco sempre presente em nossas escolhas, como me garantiu recentemente um amigo que acabara de se divorciar depois de passar anos acusando a ex-mulher de “falsidade ideológico-matrimonial”. Só então, (ó mundo materialista, governado pelo vil metal ou pelo ainda mais vil plástico do cartão de crédito!) me...