Ficar
Jornal O Estado do Maranhão Ouço por todos os lugares aonde vou aquela conversa sobre as maravilhas do passado: “No meu tempo, sim, era bom”. E lá vem discurso sobre coisas supostamente originais que se faziam e não se fazem mais – como se houvesse novidades sob o Sol e sobre a Terra –, sobre os jovens não saberem como o mundo era melhor naquela época, sobre aventuras que, acho eu, parecem aos de hoje do tempo do Noé de antes do dilúvio, tudo num infindável lamento, parecido com o do personagem de Machado de Assis, Dom Casmurro. Este tentou unir as duas extremidades da existência, a juventude e a velhice, construindo, já na meia-idade, uma nova casa, copiada daquela de sua infância no Rio de Janeiro do século XIX. “O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência”, diz ele logo no início do livro. Será isso mero saudosismo? Não poderia ser a perene tentativa dos seres humanos de voltar no tempo, a fim de escapar, ainda que apenas simbolic...