A avó
Jornal O Estado do Maranhão O menino gostava de ouvir as histórias da avó. Ela chegava às sete horas da noite, pequenina, ligeira, decidida como em tudo que fazia. Sentava-se em uma cadeira de balanço de madeira e lona no terraço do bangalô estilo anos 50, para conversar com a filha e encantar os netos. Abençoava uma a um antes de pegar, para abanar-se, o leque suavemente perfumado (cheiro de missa, de igreja?). Se não o trazia, usava o abano de palha de atiçar os fogareiros. Não era raro ela fumar um cigarro. Ele achava esquisito. Fumar não era coisa de homem? Trazia fragmentos do dia e da vida trivial só na aparência. A feira pela manhã, o emprego dos filhos, as dificuldades da vida, os vizinhos abelhudos, as zangas com a nora, os comentários da rua estreita e pequena, os bentivis e as andorinhas no beiral da porta-e-janela no centro da cidade. Nessa casa, uma telha deslocada deixava o sol marcar as horas com um raio oblíquo, formando um feixe de luz de partículas de poeira em suspen...